sábado, 17 de dezembro de 2011

natural, pra mim, é assim...uma metáfora que se constrói

 minhas montanhas," minhas " só porque elas estão ao alcance do meu olhar, elas falam comigo, elas me ensinam


natural, pra mim, é acordar, abrir a porta da casa e pisar direto na grama. comer pão feito em casa e coalhada natural que mais parece creme de leite fresco tirado das vacas que pastam o capim plantado aqui. estar lavando uma roupa no tanque e, de repente, sentir o focinho da égua que lambe  o meu ombro e me dá bom dia. o gato novinho que pula feliz e mia comunicando sua fome enquanto o mais velho já sabe que vem. estender uma roupa no varal e em poucas horas ela estar sequinha e cheirosa. escolher que legume comer e ir nos canteiros colher, nem precisar lavar as folhas de couve, porque não tem agrotóxicos nem mijo de cachorro, só tem água da torneira que vem da nascente pura e da chuva. lavar louça e descobrir, em frente à  janela, novas espécies de passarinhos e beija-flores chupando o néctar das flores.  ver a lua nascer atrás das montanhas e ligar o som na altura que bem entender porque sei que não vai atrapalhar o sono de ninguém, acionar  o liquidificador altas horas da noite, sair no escuro de camisola em noites escuras de lua minguante, ir com a lanterna até lá na horta buscar os temperos porque deu vontade de providenciar uma ceia naquela hora, apesar dele dizer, você vai mesmo? e , no caminho, tropeçar num sapo, a minha pele com a dele, que mais parece couro curtido no sol do sertão... chegar dezembro, dispensar os pijamas quentinhos e meias, fechar as persianas e deixar os vidros abertos, mas ainda estar me cobrindo com a colcha de pena de ganso depois de um dia andando descalça, com sutiã à mostra por trás da camiseta de alças fininhas. ter tempo pra almoçar junto, tomar café da manhã comentando os sonhos, interpretar as angústias e dilui-las junto à natureza. trocar vivências com o povo daqui e enriquecer. receber os amigos e compartilhar isso tudo.
falta de tempo é falta de concentração, de fazer lista no coração do que é prioridade, então não vem com esse papo de que ando super ocupado...acho  feia essa desculpa...  não, não dispenso ipads, ipods, etcs e tal, dispenso é falta de qualidade.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

sem nomes



a garota ficou com aquele garoto e gostou, gostaram. aquele garoto fica sempre com
aquela garota que mora com o outro. o outro descobriu. pediu à garota com quem divide a casa e a cama para conseguir uma arma. ela conseguiu. o outro foi preso, a arma apreendida, ele já está solto. ía atirar contra aquele garoto e aquela garota que conseguiu a arma, essa com quem ele vive. aquele garoto  voltou a ficar com aquela garota, que armou o maior barraco quando o viu com a garota. aquele garoto disse para a garota que voltou a ficar com aquela garota para protegê-la, pois a ama. o padrasto daquele garoto disse que se o outro o matasse, ele mataria todos os membros da família do outro, um por um.
a garota tem 12 anos. aquela tem 16. os dois garotos tem 17.
depois eles crescem, garotas e garotos, alguns ficam no interior, outros vão para as cidades grandes, alguns se formam e continuam assim aos 30, 35 e mais...usando suas próprias palavras e seus próprios sexos  como armas, e botando mais gente no mundo.
outro dia,mme m., que cuida do seu filho e dos filhos de seu atual marido, botou no face um artigo da marta medeiros,  “filho é pra quem pode”,  falando, em resumo, que quem não dá conta de si mesmo, jamais deveria botar filhos no mundo para encobrir sua própria monotonia, carência, trazer o homem que se foi (ou nunca esteve junto) de volta, e vários etcéteras  que, quem se cuida e ama, percebe.
ah,  se as pessoas percebessem que não estão dando conta de si, digo eu... seria um grande avanço. são muitos e muitos os que ainda preferem a fuga.
lembrei da personagem do livro “a elegância do ouriço”, a concierge,  que diz que embora muitas vezes ficasse tentada, jamais escolheu a via da facilidade, como faz a maioria, escolhendo, como ponto de fuga,  estes 3 itens: ter filhos - para adiar a dolorosa tarefa de enfrentar a si mesmo, a televisão -  que distrai da extenuante necessidade de construir projetos com base no nada de nossas existências frívolas...os pixels que embrutecem a cósmica consciência do absurdo e deus que acalma os temores dos mamíferos e a insuportável perspectiva de que um dia os prazeres chegam ao fim. oui, a autora muriel barbery, professora de filosofia em seu segundo romance de sucesso, dá uma chamada très chic na imbecilização da sociedade, naqueles seres que gozam com frivolidades e dão à luz a diversos graus de violência.


corpo também é mapa



 ah, o corpo, pra mim? é como um mapa, desses que a gente compra pra se entender numa cidade. eu gosto de mapas que foram manuseados, marcados, que tem manchas do tempo, marcas do abre e dobra e fecha. mapas lisinhos ainda são estranhos, ainda ninguém consultou, aqueles que ficam aguardando quem vai comprá-los...afinal eles foram feitos para dar um sentido pra quem busca sentido. também não gosto de mapas maltratados, em que não dá pra ler mais nada.
foi assim que respondi à uma linda amiga, que conta que nem chegou aos 40 e já tem joanetes, manchas brancas e pintas na pele, fios brancos nos cabelos, vista que embaça de perto...ela apenas registra, não reclama. é uma mulher linda. observa. ela tem insônia porque é muito intensa e criativa e nem tudo cabe no seu dia a dia, com duas filhas pequenas e todas as angústias que vivem aqueles que são sensíveis, os artistas que contam por enquanto  apenas com o patrocínio do seu próprio self. são muitos os que não conseguem  se encaixar numa sociedade voraz.
eu também passo a  gostar mais dos meus vestidos quando eles perdem aquela impecabilidade que tem na loja, quando adquirem a minha energia e a energia dos lugares e encontros que eu os levo a viver. aí sim começa uma rica relação com o meu guarda-roupa. outro dia achei um livro que li no final da década de 80, começo dos anos 90, quando estudava cabala e os arcanos do tarô como caminhos de individuação. que delícia rever todas marcações que fiz, comentários, perceber o que absorvi daquilo tudo, o que veio depois sob outra forma. as páginas rabiscadas a lápis, caneta colorida, marcador de texto que, com o tempo, vira aquarela. tem um livro aqui comigo, que eu li primeiro, depois a minha filha leu, nós duas marcamos, comentamos, e quando volto nele, revejo a mim mesma e a ela, nosso crescimento, memórias de experiências reais. é como se houvesse ali  uma pequena e escondida biografia registrada.  adoro!



quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

sobre o tempo

foto de franco rubartelli - veruska 1968

a matemática do tempo, seus segredos e mistérios, desvendo-a,  ou ele passa sem significados. um humano está pronto para nascer aos 9 meses, pode também nascer prematuro aos 7, mas não pode nem aos 5 nem aos 10.um ser celeste, milhões ou bilhões de anos. o sr. eduardinho disse que, conforme a fase da lua, a vaca pare o bezerro aos 9 meses, como gente, ou  além. o capim limão brota logo e resiste a tudo. o potro sai andando assim que sai do ventre da mãe. os caquizeiros perdem todas as folhas no inverno e, em apenas uma semana de setembro, voltam todas, grandes, com  os primeiros frutos pequenos que estarão maduros  em fevereiro e  março. podar as roseiras na última lua minguante antes da entrada da primavera faz com que quadruplique a floração. as folhas das espatódeas não caem na geada, caem no final da primavera e retornam com as  flores só no alto verão. quando aquele caboclo cortou aquele imenso eucalipto que ameaçava cair com o vento forte sobre a construção, ele disse: nós temos  vivência aqui na terra, esse eucalipto é muito velho, não irá brotar de novo nunca mais. a senhora pode preencher essa rachadura com cimento e fazer depois uma mesa. não fiz. peguei um giz de cera vermelho e escrevi sobre o tronco cortado, em círculos, acompanhando a mandala de madeira: obrigada por todos esses anos de doação, obrigada por todos os lindos momentos que vivenciei sob a tua sombra, obrigada pelas fogueiras em noites de lua cheia, pelos insigths, pelas celebrações com os amigos, pelas noites de amor com meu marido, pelo poire que tomamos eu e minha filha numa noite cheia de sons e magias e todos os outros dias a sós contigo. dois meses se passaram e ele brotou em dois lugares, no tronco cortado e numa das gordas raízes. quanto tempo leva para quem ama ser amado? quanto tempo leva para a arte, ainda profunda e arte, exista , sobreviva e floresça em meio a tantas superficialidades em massa? o feijão, para ficar rapidamente macio, tem que ir para a panela de pressão. o milho vira pipoca mais rápido no micro-ondas. ela está no 4º casamento em 39 anos de vida e continua vivendo os mesmos prazeres e as mesmas dores do 1º. quanto tempo leva para uma pessoa se amar de verdade e encontrar outra capaz de amar a si  e ao outro também? se cabelo branco é sinal de velhice porque aquela adolescente já tem? as rosas de enxerto não tem perfume. as galinhas criadas com medo, remédios, calor e luzes  artificiais, crescem logo e não tem gosto, tem gosto de isopor e fazem mal à saúde do homem. quem sabe faz a hora, não espera  acontecer, cantava em plena ditadura, aquele compositor que depois se calou e nunca mais compôs nem cantou. eles continuam querendo podar a liberdade de imprensa para estender ad infinitum seu tempo no poder. antifonte, o sábio grego, já falou  no tempo marcado como a.c., que as pessoas sujeitas à tortura dizem apenas o que agrada aos torturadores.  compreender o tempo em que se vive é a 1ª condição para compreender a vida que se vive ou que se quer viver, diz o sábio nitiren. para que carro, avião, celular, internet se a pessoa não compreende absolutamente nada sobre afeto e relação? a bela xamã da tribo sêneca, que partiu  deste planeta numa manhã de 2007, aos 94 anos, twylah nitsch, disse que as pessoas não deveriam rezar, orar, pedir nada, que tudo o que precisamos já está aqui, dentro  e fora de nós, que deveríamos é dar graças, agradecer a tudo, até mesmo ao que nos faz sofrer, pois até isso nos conduz de volta a todas as respostas que buscamos e preferimos, muitas vezes, não ver.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

o buquê que eu fiz pra mim





o buquê que eu fiz pra mim chama-se assim: a sustentável leveza do ser, sim.
as pluminhas que brotaram da grama e eu, cantamos em uníssono walt whitman:
behold, i do not give lectures or simple charity,
when i give, i give myself.
Related Posts with Thumbnails