sábado, 13 de agosto de 2011

vários pesos, várias medidas ou existe uma primavera em pleno inverno



ma chère amie,

pensei muito em ti hoje. envio daqui, multiplicada, a boa energia que nos aproxima e nos faz caminhar e uivar, nesta noite fria de lua cheia no campo. ao pensar em tudo o que andou vivenciando no trabalho, depois de tantos anos de doação criativa, lembrei daquele ditado que diz que “em terra de cego quem tem olho é rei”. tenho constatado o contrário, que “em terra de cego, quem tem olho é escorraçado, apedrejado”. como já te disse, não dá para permitir que a falta de percepção alheia contamine o teu coração, sugue a sua saúde como vampiro vulgar. esses seres frustrados e infelizes se farejam e se unem para perpetrar a ignorância, esse é seu inconsciente (ou consciente) prazer, a intriga, o amor pela discórdia, é disso que se alimentam. a complacência unida ao carreirismo, o corporativismo dos que não enxergam nada, somam por dentro uma série de frustrações que se revelam em condutas que agridem o que é verdadeiramente humano. não faltam a essa gente argumentos enraizados em toda sorte de mentiras. e muito sentimentalismo. para eles, a coragem de ser feliz, capacidade constantemente construída que exige grande investimento e dedicação, agride, eles não aguentam. como diz monsieur coelho “ esta rede invisível do mal pega qualquer informação solta no ar, e a transforma na intriga e na inveja que parasitam a alma humana”. são incapazes de se relacionar frente a frente. regam seus maus sentimentos com dedicado ardor, enclausurados na escuridão, nenhuma voz que não seja a deles mesmos, penetra em seus ouvidos, os cinco sentidos vivem obstruídos. a luz revela o verdadeiro aspecto de tudo. ainda bem que a gente sabe que esses seres são como pequenos demônios que nos empurram para novos lugares, aqueles que tínhamos até esquecido que desejávamos ir e em que merecemos viver. eles não suportam a luz, a luz os agride, na luz eles não existem e é por isso que se unem, para sobreviver no escuro. formam a sociedade ilimitada da ilusão. lá na frente a gente chega até a agradecê-los. mas na hora em que nos deparamos com eles, é chocante a capacidade de distorção que possuem, grotesco, delirante. sim, concordo com mme p., eles não podem interferir nem devem afetar a tua bela jornada.ao contrário, eles te empurram para a tua jornada. a grande frustração que possuem é não conseguir te prender na rede energética deles. ergo agora uma taça de vinho tinto e brindo a tua nova era que se abre antes do tempo previsto. o tempo, o grande mistério, é o que chamo de estar aberto para o imponderável, exercitar a confiança, exatamente por possuir a sinceridade, um tesouro inestimável. vamos encher nossos ventres, mentes e corações de boas sementes, cuidar desse jardim para que ervas daninhas e formigas e outras pragas não o devastem. outro dia falei com a pequena t. , de três anos, que a formiga não era nada trabalhadeira, como falava a canção no programa que ela ama na tv. ela nasceu e vive no campo, vê como a formiga só sabe devastar o trabalho alheio, por onde ela passa a terra fica estéril, improdutiva... mas a tv falou...não adiantou nada a mãe dela confirmar o que eu acabava de dizer. haja saúde nesta era da comunicação! faço a minha parte e confio. não estamos sós, pode ter certeza. cuida-te e muito bem. pausa. percebo que toda vez em que estou sofrendo é por excesso de amor à vida, jamais por negação. você acredita que nunca senti raiva, ódio desses seres, nem pena, sempre achei que sentir pena é colocar-se numa situação superior, são eles que acreditam em hierarquias, eu não, eu acredito em responsabilidades, envolvimento, comprometimento. longe de ser santa. isso sempre foi natural, como é para a lua ficar cheia, me posiciono, frente á frente. você também. o que procuro é canalizar a melancolia e perplexidade que eles provocam em mim em algo criativo, concentro, é um esforço. confesso que já desejei muitas vezes que um big bang os despertasse dessa cegueira profunda, mas concluo que é muita ingenuidade minha, até num big bang o papel deles é manter o caos. ficamos curtindo a lua na mesa com fogo no centro, ouvindo cowboy junkies. pensamos em vocês. sim, faz muito frio, o ar das montanhas purifica e fortalece. deito a cabeça sobre a mesa, vejo a capineira sob um outro ângulo, macio colchão, essa luz da lua mostra o capim todo prateado, me dá vontade de deitar sobre ele, volto para casa. continuo ouvindo walking after midnigth daqui, por trás das janelas fechadas. é o que farei. treino há anos o meu olhar para não perder o rumo nas noites escuras. aqui confirmo que existe uma primavera em pleno inverno. aprecio. não fazemos parte do grupo que torna o possível impossível. não quero mais me colocar no lugar das pessoas e compreender tanto. é um exercício que faço desde pequena, acho que é coisa de filha única e do meu vínculo com as artes cênicas. bobagem negar que todo mundo tem um preço. por isso não julgo. julgar é bem diferente de discernir. lapido o discernimento, reconhecer o que é semente de papoula, o que é estrume. aquela menininha, ao levar uma bronca da mãe que lhe disse:“você tem que se colocar no lugar das pessoas!”, respondeu:” mas se eu me colocar no lugar das pessoas para onde elas irão?” ah, li essa historinha contada por um escritor francês, emmanuel carrère, no jornal de ontem. assim como ele e ela, não quero me colocar no lugar de, coloco-me frente à frente. você já o fez. a gente vai abrindo um caminho que não está exposto, não dá para ver a olhos nus mas que existe, existe. boa noite. durma bem.

bisous



2 comentários:

maría cecilia disse...

abrazos desde acá mi querida Simonetta!!!

Taila disse...

Oi Simonetta,
Preciso falar com vcs com urgencia.
Iara

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