sábado, 17 de dezembro de 2011

natural, pra mim, é assim...uma metáfora que se constrói

 minhas montanhas," minhas " só porque elas estão ao alcance do meu olhar, elas falam comigo, elas me ensinam


natural, pra mim, é acordar, abrir a porta da casa e pisar direto na grama. comer pão feito em casa e coalhada natural que mais parece creme de leite fresco tirado das vacas que pastam o capim plantado aqui. estar lavando uma roupa no tanque e, de repente, sentir o focinho da égua que lambe  o meu ombro e me dá bom dia. o gato novinho que pula feliz e mia comunicando sua fome enquanto o mais velho já sabe que vem. estender uma roupa no varal e em poucas horas ela estar sequinha e cheirosa. escolher que legume comer e ir nos canteiros colher, nem precisar lavar as folhas de couve, porque não tem agrotóxicos nem mijo de cachorro, só tem água da torneira que vem da nascente pura e da chuva. lavar louça e descobrir, em frente à  janela, novas espécies de passarinhos e beija-flores chupando o néctar das flores.  ver a lua nascer atrás das montanhas e ligar o som na altura que bem entender porque sei que não vai atrapalhar o sono de ninguém, acionar  o liquidificador altas horas da noite, sair no escuro de camisola em noites escuras de lua minguante, ir com a lanterna até lá na horta buscar os temperos porque deu vontade de providenciar uma ceia naquela hora, apesar dele dizer, você vai mesmo? e , no caminho, tropeçar num sapo, a minha pele com a dele, que mais parece couro curtido no sol do sertão... chegar dezembro, dispensar os pijamas quentinhos e meias, fechar as persianas e deixar os vidros abertos, mas ainda estar me cobrindo com a colcha de pena de ganso depois de um dia andando descalça, com sutiã à mostra por trás da camiseta de alças fininhas. ter tempo pra almoçar junto, tomar café da manhã comentando os sonhos, interpretar as angústias e dilui-las junto à natureza. trocar vivências com o povo daqui e enriquecer. receber os amigos e compartilhar isso tudo.
falta de tempo é falta de concentração, de fazer lista no coração do que é prioridade, então não vem com esse papo de que ando super ocupado...acho  feia essa desculpa...  não, não dispenso ipads, ipods, etcs e tal, dispenso é falta de qualidade.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

sem nomes



a garota ficou com aquele garoto e gostou, gostaram. aquele garoto fica sempre com
aquela garota que mora com o outro. o outro descobriu. pediu à garota com quem divide a casa e a cama para conseguir uma arma. ela conseguiu. o outro foi preso, a arma apreendida, ele já está solto. ía atirar contra aquele garoto e aquela garota que conseguiu a arma, essa com quem ele vive. aquele garoto  voltou a ficar com aquela garota, que armou o maior barraco quando o viu com a garota. aquele garoto disse para a garota que voltou a ficar com aquela garota para protegê-la, pois a ama. o padrasto daquele garoto disse que se o outro o matasse, ele mataria todos os membros da família do outro, um por um.
a garota tem 12 anos. aquela tem 16. os dois garotos tem 17.
depois eles crescem, garotas e garotos, alguns ficam no interior, outros vão para as cidades grandes, alguns se formam e continuam assim aos 30, 35 e mais...usando suas próprias palavras e seus próprios sexos  como armas, e botando mais gente no mundo.
outro dia,mme m., que cuida do seu filho e dos filhos de seu atual marido, botou no face um artigo da marta medeiros,  “filho é pra quem pode”,  falando, em resumo, que quem não dá conta de si mesmo, jamais deveria botar filhos no mundo para encobrir sua própria monotonia, carência, trazer o homem que se foi (ou nunca esteve junto) de volta, e vários etcéteras  que, quem se cuida e ama, percebe.
ah,  se as pessoas percebessem que não estão dando conta de si, digo eu... seria um grande avanço. são muitos e muitos os que ainda preferem a fuga.
lembrei da personagem do livro “a elegância do ouriço”, a concierge,  que diz que embora muitas vezes ficasse tentada, jamais escolheu a via da facilidade, como faz a maioria, escolhendo, como ponto de fuga,  estes 3 itens: ter filhos - para adiar a dolorosa tarefa de enfrentar a si mesmo, a televisão -  que distrai da extenuante necessidade de construir projetos com base no nada de nossas existências frívolas...os pixels que embrutecem a cósmica consciência do absurdo e deus que acalma os temores dos mamíferos e a insuportável perspectiva de que um dia os prazeres chegam ao fim. oui, a autora muriel barbery, professora de filosofia em seu segundo romance de sucesso, dá uma chamada très chic na imbecilização da sociedade, naqueles seres que gozam com frivolidades e dão à luz a diversos graus de violência.


corpo também é mapa



 ah, o corpo, pra mim? é como um mapa, desses que a gente compra pra se entender numa cidade. eu gosto de mapas que foram manuseados, marcados, que tem manchas do tempo, marcas do abre e dobra e fecha. mapas lisinhos ainda são estranhos, ainda ninguém consultou, aqueles que ficam aguardando quem vai comprá-los...afinal eles foram feitos para dar um sentido pra quem busca sentido. também não gosto de mapas maltratados, em que não dá pra ler mais nada.
foi assim que respondi à uma linda amiga, que conta que nem chegou aos 40 e já tem joanetes, manchas brancas e pintas na pele, fios brancos nos cabelos, vista que embaça de perto...ela apenas registra, não reclama. é uma mulher linda. observa. ela tem insônia porque é muito intensa e criativa e nem tudo cabe no seu dia a dia, com duas filhas pequenas e todas as angústias que vivem aqueles que são sensíveis, os artistas que contam por enquanto  apenas com o patrocínio do seu próprio self. são muitos os que não conseguem  se encaixar numa sociedade voraz.
eu também passo a  gostar mais dos meus vestidos quando eles perdem aquela impecabilidade que tem na loja, quando adquirem a minha energia e a energia dos lugares e encontros que eu os levo a viver. aí sim começa uma rica relação com o meu guarda-roupa. outro dia achei um livro que li no final da década de 80, começo dos anos 90, quando estudava cabala e os arcanos do tarô como caminhos de individuação. que delícia rever todas marcações que fiz, comentários, perceber o que absorvi daquilo tudo, o que veio depois sob outra forma. as páginas rabiscadas a lápis, caneta colorida, marcador de texto que, com o tempo, vira aquarela. tem um livro aqui comigo, que eu li primeiro, depois a minha filha leu, nós duas marcamos, comentamos, e quando volto nele, revejo a mim mesma e a ela, nosso crescimento, memórias de experiências reais. é como se houvesse ali  uma pequena e escondida biografia registrada.  adoro!



quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

sobre o tempo

foto de franco rubartelli - veruska 1968

a matemática do tempo, seus segredos e mistérios, desvendo-a,  ou ele passa sem significados. um humano está pronto para nascer aos 9 meses, pode também nascer prematuro aos 7, mas não pode nem aos 5 nem aos 10.um ser celeste, milhões ou bilhões de anos. o sr. eduardinho disse que, conforme a fase da lua, a vaca pare o bezerro aos 9 meses, como gente, ou  além. o capim limão brota logo e resiste a tudo. o potro sai andando assim que sai do ventre da mãe. os caquizeiros perdem todas as folhas no inverno e, em apenas uma semana de setembro, voltam todas, grandes, com  os primeiros frutos pequenos que estarão maduros  em fevereiro e  março. podar as roseiras na última lua minguante antes da entrada da primavera faz com que quadruplique a floração. as folhas das espatódeas não caem na geada, caem no final da primavera e retornam com as  flores só no alto verão. quando aquele caboclo cortou aquele imenso eucalipto que ameaçava cair com o vento forte sobre a construção, ele disse: nós temos  vivência aqui na terra, esse eucalipto é muito velho, não irá brotar de novo nunca mais. a senhora pode preencher essa rachadura com cimento e fazer depois uma mesa. não fiz. peguei um giz de cera vermelho e escrevi sobre o tronco cortado, em círculos, acompanhando a mandala de madeira: obrigada por todos esses anos de doação, obrigada por todos os lindos momentos que vivenciei sob a tua sombra, obrigada pelas fogueiras em noites de lua cheia, pelos insigths, pelas celebrações com os amigos, pelas noites de amor com meu marido, pelo poire que tomamos eu e minha filha numa noite cheia de sons e magias e todos os outros dias a sós contigo. dois meses se passaram e ele brotou em dois lugares, no tronco cortado e numa das gordas raízes. quanto tempo leva para quem ama ser amado? quanto tempo leva para a arte, ainda profunda e arte, exista , sobreviva e floresça em meio a tantas superficialidades em massa? o feijão, para ficar rapidamente macio, tem que ir para a panela de pressão. o milho vira pipoca mais rápido no micro-ondas. ela está no 4º casamento em 39 anos de vida e continua vivendo os mesmos prazeres e as mesmas dores do 1º. quanto tempo leva para uma pessoa se amar de verdade e encontrar outra capaz de amar a si  e ao outro também? se cabelo branco é sinal de velhice porque aquela adolescente já tem? as rosas de enxerto não tem perfume. as galinhas criadas com medo, remédios, calor e luzes  artificiais, crescem logo e não tem gosto, tem gosto de isopor e fazem mal à saúde do homem. quem sabe faz a hora, não espera  acontecer, cantava em plena ditadura, aquele compositor que depois se calou e nunca mais compôs nem cantou. eles continuam querendo podar a liberdade de imprensa para estender ad infinitum seu tempo no poder. antifonte, o sábio grego, já falou  no tempo marcado como a.c., que as pessoas sujeitas à tortura dizem apenas o que agrada aos torturadores.  compreender o tempo em que se vive é a 1ª condição para compreender a vida que se vive ou que se quer viver, diz o sábio nitiren. para que carro, avião, celular, internet se a pessoa não compreende absolutamente nada sobre afeto e relação? a bela xamã da tribo sêneca, que partiu  deste planeta numa manhã de 2007, aos 94 anos, twylah nitsch, disse que as pessoas não deveriam rezar, orar, pedir nada, que tudo o que precisamos já está aqui, dentro  e fora de nós, que deveríamos é dar graças, agradecer a tudo, até mesmo ao que nos faz sofrer, pois até isso nos conduz de volta a todas as respostas que buscamos e preferimos, muitas vezes, não ver.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

o buquê que eu fiz pra mim





o buquê que eu fiz pra mim chama-se assim: a sustentável leveza do ser, sim.
as pluminhas que brotaram da grama e eu, cantamos em uníssono walt whitman:
behold, i do not give lectures or simple charity,
when i give, i give myself.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

pois a arte é a vida, mas num outro ritmo



você já teve orgasmo existencial?  estou tendo agora, múltiplos, lendo o livro “a elegância do ouriço”,de muriel barbery. a escolha das palavras, o estilo e os pensamentos, tanto da concièrge quanto da menina, nos seus diários de pensamentos profundos e captação dos movimentos do mundo, me fazem parar a leitura , fechar o livro e ficar plena e esvaziada, olhando para um ponto . nesse instante, não preciso de mais nada, entro em fusão com uma percepção que me abastece, completa e me devolve a mim mesma, sem questionamentos.

domingo à noite,estava lendo, lá fora no galpão. o silêncio do campo cortado de vez em quando por uma música escolhida pelo meu dj preferido, o meu marido, os gatos aninhados sobre a almofada macia da cadeira, cada um lambendo o outro e encontrando uma posição mais gostosa, ele trabalhando nos seus escritos, a porta do forno a lenha entreaberta com o resto de brasas do almoço. pensei ,depois de um tempo parada, como o livro no colo e o olhar perdido nos gatos: quantos orgasmos desses, existenciais, você já teve? vai,  liste, lembre-se agora: o primeiro que passou na minha mente foi quando, aos 11 anos, o professor de filosofia, falou sobre platão. tímida, criei coragem, tamanha foi a paixão que platão, exposto por ele, provocou em mim, que fui falar com o professor, fui atrás dele no corredor pedir que me indicasse mais coisas para ler sobre o filósofo. essa cena me levou a outra,aos 8 anos. a escola decidiu que teríamos aula de religião, eu fiquei animada, achei que conheceríamos todas as religiões. no dia em que teve início a primeira aula, o professor disse assim: quem aqui não é católico? quem não for católico não é obrigado a assistir, não será cobrada falta. pensei,numa fração de segundo, que se essa aula fosse enriquecedora para todos,se acrescentasse algo à vida de alguém, ele não proporia isso. senti  que tudo o que ele ensinaria não somaria...e já que ele propunha a exclusão, me retirei. fui criada numa família ortodoxa, sem fanatismos. ninguém mais saiu da sala, só eu.ainda olhei para as minhas duas amigas judias mas elas ficaram. fazia muito frio e fui para o pátio do colégio, àquela hora vazio. sentei num banco absorvendo aquele silêncio,o imenso espaço sem criança nenhuma, todos em  aula, e senti um grande prazer, um grande orgulho de mim mesma, foi um orgasmo sim, um imenso prazer que proporcionei a mim mesma. mantive essa coerência e nunca mais voltei aquela aula. depois lembrei de quando, aos 20 anos fui na tate gallery em londres e entrei numa sala, em que só havia um desenho grande de da vinci, jesus e madona. um desenho imenso, em pastel,em tons de azul e sépia,todo feito em  linhas. a sala em meia penumbra e uma luz delicada se esparramando pelo desenho. sentei-me numa cadeira que havia diante da obra e não vi a hora passar, o guarda teve que me avisar que a galeria iria fechar. enquanto estive ali, ninguém entrou. saí fora de mim, estive ali e em outro  lugar ao mesmo tempo, com leonardo.

 ah, a menina, descrevendo as árvores no livro, me levou ao primeiro passeio com a minha filha, com um mês de vida, no parque lage, no rio de janeiro. meu pai estava lá para captar com sua máquina fotográfica o seu primeiro olhar: para uma gigantesca árvore.com o carrinho parado sob aquela copa, mergulhei naquele olhar que via pela primeira vez uma forma, que para ela, ainda não tinha nem nome. e fui para um lugar , junto com o olhar dela : atravessei um portal em que eu, ela, a árvore, o parque lage, a cidade, tudo estava integrado em mim e eu em tudo, agora com ela, com o deslumbramento da primeira vez e minha maternidade calma. essa lembrança me levou ao dia em que dei à luz, parto normal, e, ao contrário do que imaginava, não chorei. nem ela, minha bebê. nos olhamos profundamente, o cordão umbilical ainda pulsava sobre o meu corpo e fiz uma imensa declaração de amor e de boas-vindas a este mundo e à nossa relação. tudo desapareceu à nossa volta, só ficamos eu e ela. quem chorou foi o médico, seus  assistentes, a enfermeira...quando voltei para a sala, vi  que todos estavam emocionados e perguntei : tudo bem? ela não chorou?! tudo bem, ela é uma menina elegante, alma chique, respondeu o médico. 
gostei de relembrar alguns orgasmos existenciais, vou listar outros. ah, tem também o jorge donn dançando a coreografia de maurice béjart para o bolero de ravel, hoje mesmo lembrei do bailarino argentino e em memória dele,com a energia dele no palco gravada em mim, inventei uma coreografia para o pássaro de fogo. ah, sou muito camélia sobre o musgo (nem sempre, como ela também percebe). copio aqui a expressão da concièrge, entre no wabimauaaah (clique aqui) para ler sobre "camélia no musgo".

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

telefonia interior



chove, chove, chove fino, chove grosso, chove uma poeirinha microscópica que a gente só vê nos raminhos da grama molhada, cheia de pingos que não evaporaram ainda.uma semana sem ver o céu azul, sem  sentir o calor do sol sobre o corpo, sem pegar a toalha que seca e se perfuma rápido no varal.de vez muito em quando uma estrela aparece e logo some, só para confirmar que ainda está ali... lembrei daquela amiga que, no final da faculdade, foi morar em paris. e lá vivenciou seis meses de dias e noites nublados. e , muitas vezes, em desespero, chegou a ligar para um número que atendia pessoas à beira do suicídio. ela encontrou muita gente linda, fez grandes e eternos amigos por lá, trabalhava no que ama, com paixão e reconhecimento por seu talento, conheceu e amou aquele que seria o pai da sua futura filha... mas o sol, o sol fazia muita muita falta. uma noite quase pediu uma ambulância mas não o fez, se controlou. nós nos correspondíamos muito. ela guardou todas as nossas cartas e prometeu que faria um livro de presente pra mim. não fez. sumimos uma da vida da outra nem sei dizer por que, muito tempo depois de sua volta da frança, do marido que veio de lá, da separação deles,  de novos amores e despedidas.eu a vi no facebook outro dia , só tem a foto dela, mais nada.já fazem três dias que a internet sai do ar aqui no campo, em que celular não pega e não tem telefone fixo. descobrimos que a torre que capta o sinal é movida à energia solar, ela não acumula a energia do sol mais do que sete dias. vão trocar por outra, que acumula por mais tempo. chuva tão seguido  não é comum por aqui. já foi encomendada essa outra placa solar, vai chegar lá do amazonas. bem, pelo menos agora tem uma explicação. tem?  muito chato ver a tela em branco, a rodinha azul girando, a esperança de ver the saint google a cores e aparecer aquele monte de letras escuras, não foi possível fazer a conexão, verifique isso ou aquilo...afff. meu sol ainda resiste.
na penúltima lua cheia, sentei-me com o meu marido naquela mesa que inventei com fogo ardendo no meio e mandei mil recados, direto pro universo,entre uma e outra taça de vinho e sem intermediários.um deles era que eu queria reencontrar  a minha prima, sumida depois que voltou a belgrado, há muitos anos sem notícia alguma, nem facebook, nem google, nem nada que me ajudasse a reencontrá-la. e nessa noite fui bem firme...e não é que ela reapareceu no dia do meu aniversário, o tal 11.11.11 e ainda me deu parabéns em sérvio? e ainda conversando em português, que ela não esqueceu desde que foi embora daqui? foi demais pra mim, para a minha telefonia interior. ela, assim como eu, se recusou a aderir ao facebook por um bom tempo mas não resistiu e, assim que entrou, me reencontrou.na noite daquela lua cheia, ainda pensei na irmã dela, com quem tive menos convivência, que se casou com o professor de música e virou cantora de ópera na alemanha. e não é que a minha prima combinou de nos vermos todas e falarmos neste sábado, todas, a cantora inclusive? mas a placa solar,instalada no alto da montanha,  não conseguiu acumular mais energia pra sobreviver a mais de sete dias... e aqui estou, conversando com calma ( mais ou menos...)
com o coração a mil, enviando toda essa comprovação do amor que não perde o link, não sai do ar, não se esvai por aí. ;)
mas eu prefiro tudo isso com a tecnologia funcionando a favor. J

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

beladonas ou o que preciso dizer agora




" ninguém deve se permitir viver sob o domínio do medo e portanto aceitar qualquer coisa." 
esta é a essência da minha particular declaração universal dos direitos humanos. 
cultura e educação ajudam a preencher os buracos negros de cada um. ter uma visão lúcida sobre do que se trata esta vida, viver neste planeta azul dançando no cosmos, sem cair, também.
 sentimento de eterna insatisfação é a droga mais nociva. achar sempre que haverá um outro para resolver uma questão que cabe a você também.
lembrei daquela mulher bonita, loura exuberante que trabalhou na minha casa. ela morava numa dessas favelas famosas, ponto turístico. o marido porteiro nem sempre podia dormir em casa. e ela era hiper ciumenta e vivia achando que tal ou tal mulherzinha estava de caso com ele. ela recorria aos chefões do tráfico que mandavam dar surras nas prováveis amantes dele. ela me ouvia falar sobre o poder dentro de si, a purificação dos sentidos e tantos outros recursos pacíficos, gratuitos e sempre disponíveis dentro de nós... só ouvia. 
beladonas, as flores que trazem em si o remédio para dores e , conforme a dose, a morte por envenenamento.dá para transformar o veneno em remédio, é possível, quem não sabe disso?
mudar fora e dentro é mais que urgente.mudar a visão sobre tudo.o grande começa no pequeno. lembrei daquele analista comentando que  uma pessoa que traz muitos problemas para sua família é como a lata de lixo da família, aponta para o que a família precisa transformar. eu era muito jovem quando ouvi isso pela primeira vez. pensei literalmente numa lata de lixo, que se investigarmos o que foi consumido ali ,poderemos traçar a imagem daquele grupo todo. 
é isso o que precisava dizer agora.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

a minha luxúria é o que eu sinto, penso, percebo, vivo


assim que cheguei aqui no campo, este ano, não quis ler nada. eu amo ler mas estava precisando ler nada, precisava que os meus pés descalços lessem o chão, meu corpo lesse o sol, precisava decifrar o som do vento, dos pássaros, grilos, das partituras de tambores dos sapos lá longe anunciando a chegada da chuva, do crepitar da lenha no fogo, nossa, como tem palavras a madeira se desfazendo na chama,o rio desviando das pedras  e sussurrando em allegretto, essa era toda a escrita que o meu corpo e espírito precisavam. e foi o que fiz. depois chegaram os amigos,  trouxeram autores contemporâneos enquanto eu relia clássicos que tem aqui. fui para a china, israel, minas, colômbia,japão, new york,índia, tantos lugares... enquanto o meu marido revisava o seu próximo livro, um vazio no coração do mundo,um romance baseado em fatos reais da recente história brasileira, que será lançado em breve.
eu gosto também de observar a intimidade das flores, elas me passam uma sensualidade natural e vibrante. uma amiga minha me perguntou certa vez porque eu não escrevia sobre sexo. diante de um mundo em que proliferam farmácias, pet e sex shops, programas na tv, cursos pra ensinar as pessoas a descobrir o ponto g... falar sobre sexo? pra que? que cada um se encontre e se entenda na intimidade da sua vida. ela me emprestou o livro a vida sexual de catherine millet, disse que não tinha conseguido ler até o fim, que foi um sucesso na europa, queria saber o que acho. estou quase no final do livro, porque quando pego um assunto vou até o fim. li como quem lê uma lista de supermercado, nunca conheci uma mulher tão angustiada e com tão baixa auto-estima. e fria. até agora me pergunto para que ela escreveu e publicou essa obra, não consigo entender. libertina? hahaha. libertina que se preze é a personagem do casa dos budas ditosos,do joão ubaldo, esta sim, já bem madura ainda fez a caridade, entre quatro paredes, de ensinar os homens a não terem mais ejaculação precoce.
pro meu gosto existem farmácias demais, sex shops demais, pet shops demais. e cachorro saudável, com dono saudável, precisa de lacinho, perfume, esmalte de unhas? minha filha fez uma pesquisa sobre pets para a empresa de geração de conteúdo para tv , em que trabalha, e descobriu que já tem até motel para cachorros, existem os que acreditam que cachorro estressado tem que fazer sexo. não faço parte desse mundo de crenças. não acho que sexo faça parte dos medicamentos contra estresse, depressão, tristeza aguda.
conhecer o próprio corpo  e o corpo do outro é uma viagem que depende da qualidade, da sensibilidade do viajante. simples assim. nunca gostei de excursões ou conhecer dez países em 15 dias . também acho uma pobreza os que só gostam  do trivial arroz com feijão. que não se abrem a novos sabores.
a minha luxúria é o que eu sinto e o que eu sinto é o que eu penso,percebo, vivo. ponto.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

oh, meus ventos perfumados... respondam !



ai minha acqua vitae, meu sol, meu céu e nuvens, meus lenços indianos, 
meu vento quente, macio e perfumado com sândalo que vem lá de bangalore,
 com mato, musgos e grama recém regada pela chuva,
 me respondam : 
quanto tempo leva para a humanidade descobrir que pensar só em si não leva a nada... assim como pensar só nos outros é apenas suplício?

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

tudo aqui é muito wabi , inclusive eu





wabi é a beleza que brota da energia criativa
que flui em todas as coisas,
animadas ou inanimadas.
é uma beleza que, como a própria natureza,
pode surgir ao mesmo tempo clara e escura,
triste e alegre, raivosa e gentil.


makodo ueda, escritor

terça-feira, 25 de outubro de 2011

nessun dorma

foi graça e surpresa o que senti ao descobrir isso outro dia. simonetta cattaneo vespucci, a musa de botticelli, eternizada no quadro ‘o nascimento de vênus’ também portava esse sobrenome, ianvensis. simonetta ianvensis.... ela também tinha um sobrenome... quase igual ao meu???
identifico-me com a irreverência dela e dele.
(copio abaixo o texto que postei como ícone permanente deste blog, aqui, nesta coluna à direita...)
ianvensis...na hora lembrei da cara de monsieur j.s., cansado desse papo sobre vidas passadas, comentando que todo mundo acha que um dia foi famoso, cleópatra e sei lá mais quem. gracinhas dele à parte ( entendo...), já li e até conheci gente que fez terapia de vidas passadas e resolveu traumas presentes, ok, tudo bem, valeu recordar os anônimos e, chi lo sa, famosos do passado, que se faziam eternamente presentes, carregando conquistas, alegrias ou muita angústia.
apesar de ter nascido e voltado à itália, nunca consegui chegar a florença. tudo lá me é tão familiar.um sonho. ainda.
acredito que a vida, sob várias formas, não tem começo nem fim e espero sinceramente não estar somente renascendo neste planeta ad infinitum...sempre achei, como a ciência comprova hoje, que existem muitos, mas muitos sistemas solares além do nosso, prontos, em formação, mortos ou morrendo. sistemas solares – usar estas palavras apenas para identificar aqui do planeta terra, infinitos mundos neste vasto e infinito universo em espaço e tempo. para mim tanto faz identificar vidas passadas desde que eu faça do meu presente o melhor presente. tenho um monte de questões para resolver já. até para realizar minha vontade de passar um tempo na toscana, não só em florença. prefiro falar firenze. a última vez em que passeei por lá foi com a juliette binoche no filme coppia fedele.ano passado.
quando comecei a fazer colagens, enquanto dava de mamar para minha filhota olhando aquela vista indescritível do corcovado, tive um sonho: sonhei que estava em firenze, entrei numa galeria, fui até uma livraria, aberta  há séculos, peguei um caderno e voltei. acordei e vi o caderno de anotar a vida, que já tinha feito para mim, igual ao que tinha visto em firenze no sonho. igual não, a mesma concepção. o caderno ficou lá em cima da mesa na sala. um amigo advogado, recém chegado de firenze, em rápida viagem a trabalho, ao ver o caderno na minha sala, no rio de janeiro, gritou, no seu jeito engraçado, expansivo e super observador: ué, quando é que você esteve em firenze, foi há pouco e não me contou? comprou este caderno na livraria da galeria tal e tal...? eu comprei um parecido mas prefiro o seu. sua caligrafia é mais forte e o meu é impresso, o seu feito a mão.
gosto do intangível que se torna palpável.
antenada nesta vida presente.
copio abaixo o que prometi acima:
a musa de botticelli era simonetta cattaneo de vespucci, esposa de marco vespucci (primo distante de americo vespucci) cortejada por giuliano de médici, irmão mais novo de lorenzo. eles a chamavam de “la bella simonetta”. ela morreu cedo, aos 22 anos, provavelmente de tuberculose. botticelli levou alguns anos após a sua morte para conseguir terminar o quadro (1482) - o nascimento de vênus. numa era em que os temas católicos dominavam a maioria das obras de arte, a vênus é notadamente pagã. é um milagre que esta pintura tenha escapado das garras de savonarola, o zeloso e fanático frei dominicano que propôs e incentivou nessa época que se queimassem todos os livros e toda arte que representasse um sacrilégio ao pensamento cristão.botticelli pintou a deusa vênus, saindo do mar, colocando sua musa de frente e no centro da pintura, uma heresia para a época.mas a verdadeira arte é corajosa e sempre vence toda forma de opressão.é um dos quadros que o mundo todo conhece. fico feliz que a minha mãe tenha escolhido esse nome pra mim,mesmo tendo que fingir que não ouço todas as piadinhas sem graça que fazem com o meu nome desde a adolescência até hoje, acredite se quiser.:)

esqueci o que prometi para mim.prometo agora e copio aqui: não me esquecer jamais de mim. compartilhar minhas luzes e sombras sempre nos aproximou e aproxima. os savonarolas de ontem reaparecem hoje com novas vestes e funções, na política, nos negócios, nos leilões, nas artes de entretenimento, religiões, nos don juans de plantão nas noites e dias por aí... nas salas e calçadas deste planeta suspenso em azul.um amigo nosso, famoso artista plástico carioca, esteve este ano expondo suas obras na china a convite da embaixada brasileira. adorou o país. -  e, aí,vendeu muitas obras? - não, o governo proíbe vendas de obras de arte que não sejam chinesas. free tibet, há quanto tempo existe essa campanha? enquanto  o simpático dalai lama conquista corações pelo mundo todo, em lhasa já existe um hotel boutique cinco estrelas, com spa e tudo. (apenas alguns exemplos metafóricos, há muitos mas hoje escolhi estes.) afrodite se quiser...hmmm... tempo esgotado, adiando tarefas domésticas,câmbio? não posso mais esperar, a água está fervendo. free me, i do it. va pensiero, va! nessun dorma.

sábado, 22 de outubro de 2011

assim

eu penso renovar o homem usando borboletas, disse o poeta manoel de barros.
eu penso renovar o homem usando a abundância de flores de romã
que está acontecendo aqui neste nosso campo este ano.

conselhos que teria dado

que conselhos eu teria me
dado no passado?
 plante mais rosas,
não corte o cabelo curto,
confie sempre no seu coração,
mesmo sob pressão e turbulências
ele sempre confirmou estar certo.

saúde

cansada de todos esses recursos
que a humanidade inventa pra tornar a vida melhor,
respiração, meditação, acupuntura, reiki,qualquer coisa,
ando achando tudo tão nonsense neste planeta...
sempre achando que a vida é tão maior
e que nós seres humanos complicamos demais
e depois inventamos visualizações,iogas,rituais,mantras

 and so on...
passeio às margens do nosso rio
e fico face a face com esse passarinho
meditativo.
chego tão pertinho dele que chego 
a pensar que está ferido.
bobagem,acho que ele me reconheceu como um deles.
há muito tempo que admiro e observo passarinhos,
sua energia de vida, faça chuva ou sol,
estão sempre cantando
e voando.ou aceitando um natural pouso.
 natural assim.despoluído.

um buquê de trevos pra ti

amo esses trevinhos que
resolveram brotar no meio do cimento.
conheço gente assim,
que cria e cria onde 
mais nada parecia possível.
nem pensa se é possível ou impossível,
acontece.
adoro ouvir histórias assim.
a manhã estava cinzenta,
assim que saí , os vi,
eles sorriram bem verdes pra mim 
e eu retribui,
agachei, fiquei bem pertinho deles,
corri e os fotografei.
passaram-se dias e dias...
eles mantem sua saúde e brilho.
eu gosto disso.
os detalhes
jamais são detalhes para mim.
um pedacinho
conta uma história inteira.
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