domingo, 27 de junho de 2010

unicórnios



quando voltei de londres, trouxe na bagagem uma reprodução de uma ilustração bem onírica, um unicórnio num campo enluarado e coloquei na parede do meu quarto de 20 anos, aquele que a minha mãe chamava de boudoir da bailarina do moulin rouge de toulouse. o meu quarto era cenário, com iluminação para acentuar climas.ao adormecer, antes de desligar a luz amarelada da lamparina marroquina, eu apreciava,entre outras imagens, o unicórnio que, para mim, era símbolo de sonhos impossiveis. alguns conquistei, outros não se mostraram tão prioritários. sonho que se sonha junto é realidade. é verdade. o junto é que é o xis da questão.agora eu tenho, ele e outros eles e elas com o mesmo foco. então reaparece aqui o unicórnio, desta vez ensolarado.



sábado, 26 de junho de 2010

eu celebro





eu celebro
o tombamento do
teatro oficina
e todo o seu entorno.
o fim de uma história de resistência, 
uma luta de 30 anos, 
a cultura versus 
a ganância e a ignorância, desta vez repesentadas pelo grupo silvio santos e sua opção pela especulação imobiliária, por erguer shoppings e condominios como representantes máximos da felicidade.
que planeta é este? 
30 anos...
"em vez de resistir, 
o oficina re-existiu, 
devorou essa guerra." 
adorei isso, 
jose celso martinez correa. 
resistir - re-existir.
"cultura, educação e meio ambiente são hoje um trinômio 
de onda brota 
a continuação das espécies vivas, 
a transvalorização de todos os valores, como previa nietzsche, e traz a possibilidade de paz mundial" - diz o diretor zé celso. 
concordo inteiramente. 
é uma batalha... 
acreditar nisso soa tão retrô. 
eu acredito mas confesso que muitas vezes ainda penso 
"pára este planeta 
que eu vou descer."
"teatralmente, o que aconteceu 
com a disputa teatro oficina versus grupo silvio santos 
é a metáfora concreta 
deste embate universal 
no planeta todo."
...que são joão acenda hoje esta fogueira 
em todos os corações presentes neste ato 
que estarão torcendo 
em todo o mundo por 
esta vitória da vida nesta era 
que estamos construindo."
o meu já estava aceso.

terça-feira, 22 de junho de 2010

penteadeiras



























fui doutrinada pela minha mãe a não gostar de penteadeiras.ela associava penteadeiras a coisa de gente pobre = pobre de cultura, achava "cafona".e isso ficou em alguma camada do meu inconsciente.desde que me reconheço no espelho, promovo faxinas no meu inconsciente.nunca tive uma penteadeira. tenho pensado no assunto.não seria nenhuma dessas duas. gosto de ter espelhos móveis que ampliam a visão e multiplicam a imagem como colagens.até hoje optei por espelhos com molduras antigas. perdi, certa vez , a oportunidade de comprar num antiquário um espelho com uma moldura belissima,cheia de flores entalhadas em madeira clara,côr de casca de noz,que foi de um circo antigo, daqueles que distorcem a imagem conforme a distância, ou ficamos muito magros ou obesos.hilário.quando liguei depois, decidida a comprá-lo, tinham vendido a moldura e jogado fora o espelho.inacreditável, foi  o que pensei... eu.não gosto de casas lotadas de espelhos, me irrita. ah, eu também sei reconhecer  as mulheres que ficam horas e horas diante do espelho para criar um visual descontraído, de quem saiu de casa com pressa..algumas conseguem acertar a produção descontraída.. outras - como aquela moça no café de domingo, de short jeans,camiseta branca haute couture,bolsa louis vuitton com estampa de rosas, sapatilha pérola,relógio dourado e falsos cabelos lisos - não. ela não descontrai quase nunca.sim, o corpo fala.. nem todos querem revelar a imagem que tem ou não de si.eu aprecio tudo que é autêntico, a imagem que acompanha as emoções, os pensamentos, a atitude que a pessoa tem na vida.é o que acho bonito. acho triste quem precisa de personal stylist ou copia o que viu nos outros, sem nenhuma assinatura própria.sempre que penso em espelhos eu me lembo do meu rigoroso e divertido maître de dança contemporânea que parava a aula e urrava com as mulheres que, enquanto faziam pliées, ou sustentavam a perna no alto por mais de 8 tempos, admiravam seus reflexos ao mesmo tempo.ele interrompia o som e descascava o verbo, falava nonstop sobre conquistar consciência sobre os movimentos sem precisar admirar o que ainda está em construção, só olhar depois.eu gostava.

espelhos




sábado, 19 de junho de 2010

rien de rien




































lua crescente, tempo quente.
hoje não quero nada, nem festa junina,filme, livro,nem você.
eu me quero de volta.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

a medida da espera

já plantei mudas de árvores da mesma espécie, compradas no mesmo fornecedor,plantadas no mesmo solo, sob idênticas e ideais condições climáticas e de solo. elas receberam os mesmos cuidados. algumas viraram árvores, outras desistiram.planejamento e análise das condições propícias versus o imponderável. o imponderável venceu. eu garimpo o imponderável com os pés no chão.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

refugiados

"...lembro de uma história que a minha amiga deborah, me contou certa vez. durante os anos 80, a cidade de filadélfia perguntou-lhe se ela poderia ser voluntária para ministrar aconselhamento psicológico a um grupo de refugiados do cambodja - os chamados boat people - recém-chegados à cidade. deborah é uma psicóloga excepcional mas ficou terrivelmente intimidada com essa tarefa. aqueles cambodjanos haviam sofrido o pior que os outros seres humanos são capazes de infligir a outros sere humanos - genocídio, estupro, tortura,fome,assassinato de parentes diante de seus olhos, tudo isso seguido por longos anos em campo de refugiados e perigos, viagens de navio para o ocidente, durante as quais as pessoas morriam e cadáveres eram lançados aos tubarões -, então, que tipo de ajuda deborah poderia oferecer a essas pessoas? como era possivel para ela entender a extensão do seu sofrimento?
- mas você sabe sobre o que essa gente toda queria falar quando conseguia encontrar psicólogo? - perguntou deborah.
era só: conheci um cara, quando estava morando no campo de refugiados, e a gente se apaixonou. achei que ele me amasse de verdade, mas depois a gente foi separado em navios diferentes e ele ficou com a minha prima. agora está casado com ela, mas diz que me ama de verdade, e fica me ligando o tempo todo, e sei que deveria dizer para ele ir embora, mas ainda o amo e não consigo parar de pensar nele. e eu não sei o que fazer...
quando ela leu esse trecho no livro comer,rezar,amar, de elizabeth gilbert, ela riu e pensou em todos os refugiados de si mesmos, autores, co-autores do caos afetivo, do caos político, do caos econômico, do caos que começava no buraco negro de cada um e criava aquela cadeia de mentiras/justificativas que entorpece a consciência e afasta a possibilidade de construção.pensou naquele que, agora,está jogando fumacê no sentimento real, aquele que circula de vidro cada vez mais fumê (ele manda escurecer a película para não ter que enxergar e reagir às próprias neuras). a cara dele essa imagem...fumê e fumacê - até parece nome de dupla caipira urbana. ele até reconhece que tem um dublê dele mesmo. os refugiados (de si mesmo) são hábeis em gerar e provocar pena e culpa, construir vácuos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

todos os dias






tarefas de todos os dias:

- alimentar o deslumbramento com as coisas simples.
- perceber sempre o sentido sagrado por trás de tudo.
- cuidar da intuição que capta o permanente na passagem veloz e/ou lenta dos sentidos.
- aplaudir as contradições que são férteis.
- desvendar o óbvio.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

eu também


recebi de uma amiga (mais uma belíssima) um texto de um escritor boliviano quechua, xamã que resgata, com a sua escrita, a tradição espiritual inca. ainda não o conhecia. ele se chama chamalu - luiz espinosa. e o texto - "declaro-me vivo".
reparto aqui alguns trechos:

sou guerreiro: a minha espada é o amor,
meu escudo é o humor,
o meu espaço é a coerência,
o meu texto é a liberdade.

a melhor forma de despertar
é deixando de questionar se nossas ações incomodam
aqueles que dormem ao nosso lado.

amo a minha loucura
que me vacina contra a estupidez,
amo o amor que me imuniza contra a infelicidade que prolifera
infectando almas e atrofiando corações.


peço perdão, mas
declaro-me vivo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

ora , vibra. ora vibra.


obra em papel
da artista chilena radicada em paris, 
emma malig.
este é da série errance






























 sakyamuni - quadro de odilon rebon




ela disse que detestava a palavra orar.
 disse assim: "orar é rezar, pôxa!"
eu não. prefiro a palavra orar.
reza tem som, para os meus ouvidos,arrastado, de lamúria e obrigatoriedade.reeeza.
oração tem agora e ação.
ora é agora.
ora é de dentro.
reza é pra fora.
rezar é pedir.
orar é ver, perceber a essência da questão e agir.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

re(descoberta)



silêncio versus uma enxurrada de insigths e palavras.
redescobrindo o original afresco 
por trás de camadas de tintas
sobrepostas aos tempos.
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