quinta-feira, 29 de abril de 2010

purple energy

ela me ligou da rua, era noite e chovia muito. tem algo pra comer aí? dá pra gente assar aquele peito de frango? desmergulhei da concentração de um trabalho e fui pra cozinha. lembrei das fases de filha pequena e como era desesperador se a empregada não aparecia na segunda de manhã,nem avisava, descontrolava o tempo, desafiava o humor.ela cresceu e a casa é toda nossa.gosto da minha vida-loft.sim, sempre dá pra melhorar.um faxineiro, e homem!, uma vez por semana, pra mim é e tem sido um luxo!  não me incomodam os livros misturados aos textos e tintas e roteiros sobre a mesa, os chinelos largados na sala como se a casa toda fosse um loft, sei lá, tem uma desordem dentro de uma ordem que é personalidade, vida.e através das coisas consigo perceber como cada um de nós anda por dentro.fui pra cozinha.quando entro finalmente na cozinha, tem que ser tudo rápido e feito com amor e prazer. percebo quando a comida não foi feita com amor.(até louça eu lavo, pensando que estou varrendo todas as impurezas do mundo,iluminando novos horizontes, trazendo brilho ao que estava opaco).o peito de frango ficou desta vez diferente dos outros, amo isso, a não repetição.meu marido, que é um super cozinheiro, ficou apreciando o sabor,dizendo que estava maravilhoso.é que lembrei da geléia de pimentas vermelhas, encolhida na geladeira num canto, e no finalzinho pincelei os peitos como se fosse tinta, pigmento natural do xingu. ah, meu marido trouxe outro dia duas beterrabas. até estranhei, porque ele não é fã de beterrabas. eu gosto, não amo, não sinto saudade de beterraba, mas como com prazer, crua e bem temperada, como salada. ou faço um suco na centríguda. adoro observar depois o tom da língua,fica fúcsia. (acho que porisso comia na infância, ficava com um espelhinho na mesa, observando o natural batom).tinha me esquecido dessas duas e quando as vi estavam meio moles em meio às cebolas roxas.ai... pensei mais uma vez (quando isso acontece)... elas sairam do campo,viajaram, vieram parar na minha casa, não podem ir pro lixo. lavei-as bem, com escovinha, cortei-as em fatias como se fossem maçãs , tirei um pouco a casca, coloquei-as num tabuleiro redondo, temperei só com sal e foram pro forno.foi a melhor receita de beterrabas que inventei. ficaram crocantes, salgadas por fora, adocicadas por dentro,uma delícia. agradeci.houve uma comunicação entre nós.o arroz sete cereais virou um risoto crocante com shoyu e cebolas roxas e as alfaces roxas ela preparou quando chegou.a chuva, o lap com música balcã, a performance no palco super personalizada do abujamra, é filho dele?,o forno ligado,os assuntos que sempre temos entre todos nós,mesmo sendo motivos prosaicos, isso ainda é ser feliz por muito, como a martha (medeiros) fala na sua última crônica, "feliz por nada".mas esse já é outro assunto... e andei pensando que mais do que os olhos, os ouvidos são a janela da alma. falo num outro dia.não, adianto um pouco logo ai abaixo...

o coração ouvinte

é, tenho pensado muito como os ouvidos são tão janelas da alma quanto os olhos,acho que até são mais, muito mais, são portas.enquanto o jantar se fazia no fogo,fui direto à estante e peguei aquele livro que eu amo, da diane ackerman,a história natural dos sentidos, e fui direto ao capítulo sobre audição: "o coração ouvinte".diz assim:
em árabe, não ser capaz de ouvir significa absurdo.
surdus em latim vem do árabe fadr asamm = raiz surda, que, por sua vez, é tradução do grego alogos,"sem fala" ou "irracional".
aqui , a autora deixa claro que não está falando sobre deficiente auditivo, é claro.hmm...já ía terminando por aqui e me lembrei da clarissa pinkola estées: a história falada toca no nervo auditivo, que atravessa a base do crânio até chegar ao bulbo do cérebro logo abaixo da ponte de varólio.ali, os impulsos auditivos são transmitidos para cima, para o consciente, ou, segundo dizem, para a alma...dependendo da atitude de quem ouve.as palavras, escritas ou faladas,tem poder, depende de quem as lê e/ou ouve.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

i lotus you

olha, um dia eu te conto o que estou vivendo. entenda, não dá pra viver e contar simultaneamente.questão de entrega e concentração.entrega é azul.azul mar. concentração é vinho.entender é verde? acho que sim.como tudo que tem clorofila e respira e filtra, faz a fotossíntese.lembra das aulas na escola? eu achava isso tudo uma magia, acontecia mas a gente não via.como a flor de lótus que não se contamina pela lama, tira dela os nutrientes necessários à expressão da sua essência, aquela que já vem na semente,e cresce, floresce.tem várias cores.eu também.e quando tudo isso sobre o que não falo agora acontece,parte de mim chega num lugar que desconheço, o choro não fica nem sai,desce fundo, não vira chuva, parece que vira esterco fresco de vaca, aquele que volta ao que já era antes, capim fresco.renovado. uma nova espécie que não se deixa destruir por insetos vorazes nem por geadas.

terça-feira, 27 de abril de 2010

o é


persuasão íntima convicção integridade assim mesmo um ao lado do outro sem vírgulas os deuses são deuses porque não se pensam só acredito em happy and










como é que se faz
para viver
uma vida vazia?
como é que se faz para viver
uma vida
cheia de nada?
do filme "o segredo dos seus olhos"

segunda-feira, 26 de abril de 2010


...o ator e o diretor estão no palco para doar, e esse é o manto sagrado da criatividade.
(antunes filho). quando alguém pergunta como é ser um mito do teatro aos 80 anos, a resposta é enérgica e indignada: odeio ter 80 anos. odeio a velhice. o que eu gosto não é da experiência teatral, é da experiência humana que tenho por causa do teatro. não me interessa nem o teatro. teatro é um meio, não um fim. a vida para mim é tudo, é fundamental. adoro o movimento da vida. o teatro é só o veículo que eu encontrei , é o meu patinete.
sobre a situação atual da teledramaturgia brasileira: as telenovelas são um desserviço não somente à cultura, como também para essa molecada (atores). leva-os a um naturalismo vazio, a interpretar de forma vazia e simplesmente natural. ser natural serve para agradar à vovó, à titia, que olham e dizem: que gracinha, que menininha natural!. atores tem que tomar cuidado para não virar gracinha. ninguém é contra os atores fazerem tv, ganharem melhor,mas atuar não é simplesmente ser gracinha.
para ler na íntegra a entrevista de antunes ao globo, clique aqui
http://oglobo.globo.com/cultura/mat/2010/04/24/aos-80-anos-antunes-filho-defende-papel-de-sua-arte-de-formar-consciencias-916423617.asp

sábado, 24 de abril de 2010

sexta-feira, 23 de abril de 2010

the lotus house

tive sorte de ter estudado inglês,na pré-adolescência, com professores ingleses muito cultos, nervosos,impacientes, rigorosos.eu percebia o que estava por trás do pavio curto deles e eles percebiam o que estava por trás dos meus olhos e ouvidos curiosos.com eles aprendi a compreender as entrelinhas de shakespeare, somerset maughan e tantos outros, uma imensa riqueza. mas quando chegou a vez do poeta wordsworth, apesar deles me amarem pelo que consideravam a perfect accent,resisti. mas o professor não desistiu e me ofereceu aulas particulares sobre wordsworth, em sua casa, a preço irresistível.fui,pois era o tema do exame final. a esposa dele servia um lanche super british e, em silêncio, trazia o chá preto com limão.a atenção e o respeito dela me comoviam. e eu prestava atenção mas nada entendia.os poemas naquele inglês do século 18... era bem complicado.ontem, estava com amigos em casa de amigos. meu marido abriu, num momento, entre tantos assuntos intensos que fluiam pra lá e pra cá na sala, o livro de joseph campbell, a imagem mítica, e me mostrou um trecho que o tocou e que tem tudo a ver com o tema do seu próximo livro. ele saiu da sala , peguei o livro e reabri numa outra página. e lá estava ele de volta, wordsworth. quando o li, me emocionei mansamente,as vozes ficaram longe, veio à minha mente o rosto do professor e eu agradeci ali a confiança que ele depositou em mim.agora eu entendia o que ele já intuia que um dia eu iria perceber.aqui está:

ao olhar a natureza, não como nos tempos
da juventude irrefletida, mas ouvindo frequentemente
a música serena e triste da humanidade,
nem estridente nem dissonante, embora com poder bastante
para punir e subjugar. e senti
uma presença que me perturba com a alegria
de pensamentos elevados; um senso sublime
de algo difuso muito mais profundamente,
cuja morada é o resplendor de sóis poentes,
e o oceano circundante e o ar da vida,
e o firmamento azul, e a própria mente do homem;
uma força e um espírito que impelem,
todas as coisas pensantes, todas as imagens de todo pensamento,
e que tudo perpassam. portanto, sou ainda
um amante das campinas, dos bosques,
das montanhas, de tudo o que contemplamos
neste mundo verdejante; de todo o grande mundo
do olhar e da audição – tanto o que criam em parte,
como também o que percebem, bem contentes por reconhecer
na natureza e na linguagem dos sentidos
a âncora de meus mais puros pensamentos, a ama,
o guia, o guardião do meu coração, e alma
de todo meu ser moral.

wordsworth em 13 de julho de 1798


terça-feira, 20 de abril de 2010

sopra vento, dilui a fumaça

sopra vento,
dilui toda a fumaça,
aquela cuspida pelo
vulcão na islândia,
que impede agora
as pessoas de trafegar pelos céus,
e aquela que impede
as pessoas de
enxergar o que é trafegar aqui na terra.

if living is seeing,i'm holding my breath in wonder - i wonder what happens next?
a new world, a new day to see    (björk - a new world)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

pina,eu,ele,nós,você

movimento concentrado, velocidade que busca vencer com leveza e convicção a pressão do tempo. tomo café, é manhã,olho da mesa para a pina bausch, no quadro que a marcella frança pintou e me deu de presente, olho as flores que a graça (do bar da) criou e plantou,a partir de papel crepom, olho o vaso chinês, herdado da minha mãe,as cores que me fascinam e acompanham desde criança.afundo os dentes no pão recheado que ele trouxe, como se mergulhasse os lábios, os dentes, a língua num macio colchão, é manhã,olho,aprecio, mastigo lentamente, o creme oculto aparece e adoça, a mente voa concentrada, o coração acelera, tanto e tanto está em movimento.o passado já se foi, o futuro não chegou, canta o mestre na minha mente, sem dedicarmos todo o nosso ser à criação de algo a partir de agora e do nada...vivencio de novo essas palavras, como abelha que faz mel a partir das flores.daisaku, concentração em movimento.capto a velocidade dos acontecimentos.saio ao encontro de novos amanheceres.eu amanheço, tu amanheces, ele amanhece.aconteça, faça acontecer ! mais tarde bate angústia no peito.passo pela petshop que expõe passarinhos coloridos, presos em gaiolas, na entrada da loja. não consigo compreender as pessoas que tem prazer em admirar passarinhos presos. não consigo.
minha vontade sempre foi de abrir as portinhas e vê-los voar. já fiz isso uma vez com a gaiola do porteiro que estava todo feliz por ter capturado um passarinho colorido naquele dia. esse eu soltei mesmo.ele ainda não estava há muito tempo no cativeiro a ponto de ter esquecido como é voar (tipo aquele elefante que desde cedo é criado preso a uma corrente e, quando libertado, não sai mais do lugar).kierkegaard passa na minha tela mental e me faz lembrar que angústia é a vertigem da liberdade.vai, voa!

domingo, 18 de abril de 2010

sempre é tempo de

pronto, assinei mais um trabalho que me deu muito, muito prazer. mais uma vez.
este vai para uma expo coletiva.
mais detalhes clique aqui  www.eusouatemporal.blogspot.com

sexta-feira, 16 de abril de 2010

mapa mundi



ser filha, ser mãe. mães e filhas. um imenso terreno contínuo.encontro no tempo. espaço que amplia.

e quando o chão de cultivo em comum é arte, tudo fica muito intenso,exuberante, sem fim.oooh,sim, sei que o próprio cotidiano deveria e pode e precisa ser arte. clichê, mas pura realidade (passam tantas histórias reais na minha mente agora, sobre mulheres que nunca fizeram arte, fizeram mais, fizeram a vida vencer).
contrações, dores de parto, nascimentos,dentes que furam a gengiva para crescer,triturar e aproveitar o que é alimento e traz energia, descartar o que nem esterco é,vitórias, cansaço,celebrações. o que foi plantado, o que brota, o que cresce, o que dá luz a mais horizontes, montanhas, lua em quarto crescente,cheia, sol que arde e queima de tanto verão, ou corta e rasga e pode até ser macio no frio.mas sol e lua sempre estão ali, montanhas também,testemunhas das relações de vida que se expandem..
( cadê aquele seu batom cor de boca, fosco?
oi?
)
vendo-a trabalhar sobre este enorme mapa, absorvendo tudo o que recebeu e indo muito além, penso, enquanto ela pinta: mães e filhas, países que se investigam, provocam, dialogam, para poder criar um novo continente.ou continentes que descobrem novos países.mapa mundi cheio de olhos,hormônios, delicadezas,aromas,asperezas, corações que não param de questionar e explanar, trocas que criam, novos rumos.(minúsculos municípios da minha vivência, tudo é muito maior do que estou mapeando aqui).
pensando no mundo todo...meu coração chega a arder com tanto sofrimento que existe.geralmente são as mães que propõem um novo continente (lembro o não! e todas as maravilhosas consequências desse não firme que a rosa parks disse ao motorista de ônibus, não, não , não vou ceder o meu lugar a um branco e pode levar esse ônibus pra delegacia). existem sim alguns pães, como costumam definir esse novo genero humano,que se unem às mulheres humanistas e guerreiras, ou somam mesmo todas as funções sozinhos,quando a mulher resolve deixar de ser e existir, mesmo estando viva, perambulando por aí como ectoplasma, até perto da família, vivendo inclusive em nobres endereços,correndo esbaforidas, só atrás do inútil, do que não tem consistência e só gera ilusão, fonte de todo sofrimento.a sociedade afinal é a soma de todas as micro células chamadas família. seja como for que duas ou mais pessoas, que vivem juntas, se organizem e convivem, o produto desse encontro é que é o xis de toda a questão que ameaça a dignidade de todos, egoismo,ganância estúpida, hipocrisia,corrupção,mentira,violência,guerras,manipulação de consciências,bombas de neutrons. tudo depende de que um se soma a outro um para que o resultado não seja zero, ou menos zero, o nada que nada alimenta,não troca, não soma, só busca subtrair, tirar proveito.
você sabe orar, pedir o máximo de você mesmo? (clarice lispector)

quarta-feira, 14 de abril de 2010

parênteses



(porque escrevo,sempre e tudo, com letras do mesmo tamanho. para que maiúsculo depois de um ponto ou num novo parágrafo? tem que avisar o que é nome próprio, nome de país, nome disso, daquilo, o que é recomeço... e desde quando maiúsculo é o que traz conquista,respeito, dignidade e amor? ) parênteses ainda tem acento?
faz pouco tempo, estava escolhendo entre duas necessaires, numa banca de rua, em copacabana. já tinha escurecido. mãe e uma linda filha de uns dez anos atendiam. a menina olhou pra mim, toda animada e sorridente e disse: moça,eu acho que você deveria escolher esta. ela estava certa. levou um esporro homérico da mãe porque me chamou de você, olha o respeito pelas pessoas, menina!a menina me olhou com olhos de bambi. ao que repondi, pra mãe, que respeito não estava vinculado a ela chamar os outros de você, senhor ou senhora mas sim a comportamento, atitude e isso a menina tinha de sobra, além de uma vibração de vida contagiante. mas a mãe insistiu que isso era eu, a maioria dos clientes se incomodavam quando não eram chamados de senhor e senhora. que mundo é esse,hein? 
outra história: domingo passado, 16h, atendo o telefone.estou só em casa lendo. uma voz de mulher madura,chorona,diz: alô........? é a senhora fulana de tal (cita o meu nome e sobrenome)? respondo (já sentando no sofá, as pernas tremendo): sim, sou eu, quem é? ela balbucia o seu nome, sai um amontoado de letras incompreensíveis....não, desculpe, é para avisar que a palestra que estava marcada para as 18 h foi cancelada e transferida para o próximo dia 25.a mulher já me viu, a palestra estava agendada há mais de um mês. eu, hein? quem avisa assim em cima da hora e desse jeito? só quem não tem respeito mesmo. imagine se eu tivesse convidado um monte de amigos de todos os cantos do rio, e eles tivessem se programado a ir a tal palestra? falar senhora? nome e sobrenome? cancelar uma palestra que costuma ser um encontro super informal para que mentes e corações reflitam e fluam (já participei de algumas, organizadas por outras pessoas)...eu,hein? só agravou a situação, já péssima (cancelar em cima da hora).e se fosse uma mulher de 80 anos, com pressão alta?  já teria ido embora deste mundo. é a tal da formalidade que é emocional e espiritualmente paralisante, formalidade sem educação, sem a menor percepção sobre a vida, sobre o outro.

terça-feira, 13 de abril de 2010

tudo depende de que 1


às vezes

o resultado de
1 + 1 + 1 + 1.............
é só zero mesmo,
pode até ser dez,
ou um milhão,
mas é de 
zeros.
e zero
não é nada,
muito menos inofensivo.
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