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sábado, 23 de junho de 2012
o xale e a rosa ou ecological heart and mind, let's have it
mais uma rosa daquelas que plantei. queria deixar aqui e agora a maciez que busquei e encontrei,nesta sexta,na rosa e na renda de um xale inglês de lã macia que, ainda adolescente, escolhi pra mim. era tão eu esse xale, que está comigo, e em uso, até hoje.eu não sabia, mas agora eu sei.depois conto mais.
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repito, os objetos, chamados de inanimados, tem vida sim,
eles falam uma linguagem que não se encontra nos dicionários nem na pesquisa google.minha mãe insistiu para eu escolher a teia de renda de lã branca.
preferi essa cor, achei que poderia me
acompanhar melhor , a mais possibilidades
de combinações. tempos depois, chegou o meu primeiro amor, que só não se
transformou em casamento porque algo em mim refutava aquele frisson e tesão todo sem
admiração pelo que ele mais amava fazer, criar gado de corte. não conseguia
compreender aquela matança de todas as árvores em enormes extensões de terra, numa
temperatura insana de tanto calor, para plantar apenas pasto e vender a carne,para
o país e o exterior, à custa de outras vidas. "vaca não gosta de sombra?” ,
lembro que perguntei ao namorado apaixonado,eu ,menina urbana , criada em
grandes centros. fui convidada a visitar parte das enormes fazendas do pai e do
avô. admirava a garra da família, questionava a mãe, criando seus filhos à distância,
em distantes internatos, acompanhando o marido, para ocupar enormes extensões
de terra em vários lugares deste país. desprezava aquela mentalidade de calcular
o preço de tudo pelo preço de arrobas do
mercado. não casei. algo em mim gritava inconsciente, e me alertava como um
alarme invisível, que tesão não sobrevive sem admiração.meu instinto desejava um outro mundo.palavras como ecologia, economia sustentável ...não existiam nesse tempo nem tão distante assim... este xale que me
acompanha até hoje, como símbolo feito de linhas entrelaçadas, diz muito para mim, uma rede
de percepções e sentimentos que definem escolhas. tudo inconsciente até um
certo ponto, até que a vida vai
revelando quem é você, que tecido você anda tecendo. refuto fanatismos, não
aprecio portadores de verdades absolutas. diferenças e contradições enriquecem.
o que não enriquece é ganância,ignorância,egoísmo, falta de amor e afeto por
tudo. “em que você tem investido essa fortuna que acumulou com o sucesso de sua
carreira?” – pergunta o apresentador de um programa popular de entretenimento
na tv, a uma cantora de axé music. e ela responde: “comprei fazendas e estou
investindo em gado de corte”. o poder , é sempre, por sua natureza,
conservador. conserva e investe no que não tem o menor valor para a vida. lamento e luto para que a indignação que sinto não mine minha energia em ação.
volto para o meu xale, para os fios anônimos que fazem diferença, que tecem uma
trama sem hierarquias e famas, que aquece e promove a dignidade da vida, uma
rede que procura criar um outro tempo, um tempo em que não cabe mais poluição. rosas
também florescem no inverno, sem agrotóxicos.
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