quarta-feira, 15 de outubro de 2008

grand vent dans le ciel

Mlle L retornou da América formada em Artes Cênicas.Estava trabalhando numa peça em New York.Não conseguiu porém o visto de permanência.O governo considera que artes cênicas não é um artigo de primeira necessidade.Retornou ao Rio de Janeiro.A tia, atriz consagrada e talentosa, terminava uma temporada de sucesso que lhe deixou como lembrança, além da casa cheia, dos aplausos, uma pesada dívida.Mlle L sempre soube que no Brasil arte também é considerada um artigo de luxo.Sempre questionei por que Mlle L , inteligente,questionadora,talentosa e bela sentia tanta ligação com a América a ponto de viver lá quase seis anos entre a queda das Twin Towers e voltando em meio a queda das Bolsas e véspera das eleições.Mas isso são mistérios do livre-arbítrio.Mlle A ouve o relato no sofá da sala, uma dama das camélias completamente exaurida pela luta insana de fazer a sua arte vencer. Mme P lembra Vaclev Havel, dramaturgo e ex-presidente tcheco que, num artigo publicado no Liberation, em 1994, clama que se não quisermos que o nosso mundo globalizado termine mal é exatamente o teatro que,melhor do que qualquer outra expressão artística , devemos defender e cultivar. O teatro é o último palco do diálogo.Pois se o teatro é espaço de comunicação livre entre homens livres sobre os mistérios do mundo, ele mostra o caminho que leva à tolerância, ao respeito mútuo, ao respeito pelo milagre de ser. Mlle A balbucia algo sobre a humanidade como artigo de luxo, Mlle L despede-se prometendo voltar em breve.

quadro de Miss Tigri - grand vent dans le ciel

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