quinta-feira, 6 de outubro de 2011
diamonds are forever
tiro da gaveta a pulseira de pérolas com fecho de diamantes em forma do símbolo do infinito. um elo que entra dentro do outro. levo-a para o sol. afinal, os diamantes também são vida e gostam de luz. oito, no budismo, significa abrir, abrir a sua mente restrita para uma mente ampla , aquela que não restringe as forças que querem construir, somar, unir, respeitar as diferenças sem poluir. esse foi o último presente que a minha mãe me deu antes de morrer. um ano antes de partir ela pressentiu, em toda a sua saúde, que iria embora. e foi. antes de partir, pudemos declarar todo o nosso amor e fértil encontro.com ela também aprendi que o tempo é o bem mais precioso que temos a oferecer ao outro. no meu último aniversário juntas, dois meses antes da nossa separação, ela disse, estávamos só nós duas no quarto do hospital : mesmo com todo o avanço da liberdade da expressão sexual e profissional, a mulher ainda não valorizou o verdadeiro poder feminino. minha mãe era assim. à frente do tempo em que viveu.
o médico, um dos diretores do renomado hospital, entrou no quarto e surpreso, elogiou a decoração que eu fizera, disse que em alguns países europeus, alguns hospitais já estavam adotando a minha proposta. iria encaminhar minha idéia nas próximas reuniões. minha mãe desejava voltar para casa para o natal mas já tinham me avisado que isso seria quase impossível. então, eu levei um pouco da nossa casa para o hospital, vasos, quadros, objetos que contavam um pouco a sua trajetória e intimidades da sua vida, um pouco da arte e estética que ela tanto apreciava e me ensinou a apreciar. rimos. o efeito do que criei ali fez com que ele interrompesse a educada bronca que iria dar por eu não ter pedido autorização para interferir naquele ambiente.
o tempo passou e a primeira década do tão aguardado terceiro milênio já foi. ...esta reinserção do feminino na história, resgatando o prazer, a solidariedade, a não-competição, a união com a natureza, talvez seja a única chance que a nossa espécie tenha de continuar viva, alerta rose marie muraro no prefácio escrito no final do século 20 (no livro malleus malleficarum- o martelo das feiticeiras). prazer, solidariedade, não-competição, união com a natureza, gostei dessa síntese... prazer, solidariedade, não-competição, união com a natureza, bem longe da cultura da ganância, do egoísmo e da alienação. voltei ao último aniversário que passei com a minha mãe, desenrolei o filme da minha jornada e refleti sobre o que me moveu até aqui: o prazer, não como ponto de fuga, vazio consumo, como ponto de encontro e crescimento, a solidariedade, aquela que incentiva e apoia o que deseja crescer e ter luz própria, a não-competição, que sabe agregar qualidades e talentos porque sabe reconhecê-los e a união com a natureza, união porque conhece, convive, ama, está presente, jamais polui e domina. tudo naturalmente interligado. um elo que entra dentro do outro. hmmm... sim, rose, urge acelerar o tempo e abrir espaço para se conquistar o que tem de fato valor... mãe, a passagem ainda é estreita. poucos percebem e se atrevem mas cresceu o número de homens e mulheres que sabem ativar o autêntico poder feminino em si. obrigada. mais uma vez. diamantes são para sempre.
releio este texto, escrito de uma só vez, fiel sim, sincero aos fatos, mas tem algo que me incomoda, tem um certo lirismo que me incomoda, que não sou eu. parece que está ditando regras de boa moça, hmmm...longe de mim. detesto lirismo doce, piegas, puritano. como manuel bandeira, fico com o lirismo dos bêbados, dos clowns de shakespeare, fico com o lirismo que traz libertação. então? sim, confesso, fiquei com preguiça de relatar um monte de fatos, muito além da cena real de transformar o visual do quarto de hospital. daria um livro. muitas vezes, para transformar ambientes asfixiantes, precisei chegar ao ponto de jogar cadeira no chão, bater a porta ou pousar os talheres de prata sobre o prato recém servido no restaurante cool e, elegante, ir embora, deslizando nos meus saltos altos para não continuar ouvindo o inadmissível. ou ficar quieta, durante anos, diante da falação dos que são peritos em mentiras. para depois colher os frutos da opção pelo silêncio nada passivo. o meu prazer foi, e é construído, exercício contínuo, de sins e de nãos. afinal, tanto o meu corpo quanto a minha casa são templos sagrados. (aquele último ser que deixei entrar (em casa) dedetizou o resto de ingenuidade que ainda persistia em mim). agora, ando com uma placa (in)visível em que está escrito assim: ardente – al dente – chocolate com pimenta – tequila e sal – cachaça com amoras plantadas e colhidas por nós – please, don’t disturb – só entre se for pra acentuar o (bom) sabor. sobre a solidariedade: deixo claro que dispenso evitas e ladies dais, compreendo-as profundamente, respeito-as, mas não são modelos para mim. sobre não-competição: pergunto mais uma vez : como alguém que não tem critérios sobre o que é valor, pode distribuir valor? ai, jesus, se tivessem compreendido o que você propôs, ainda haveria fome no mundo? dá pra marcar o tempo como a.c. e d.c.? é apenas uma marcação, né? como no palco.entendi. e, sobre a união com a natureza, sempre lembro – como amostra – daquele ser que hoje trabalha como jovem e promissor (?) jornalista (jovem obsessivamente apaixonado por uma jovem que quando o dispensou, ele, como todo autêntico sem caráter, a caluniou) que não conseguia, por mais que se explicasse, compreender a inseparabilidade do ser e seu meio ambiente. – você diz que não joga lixo no mar, ok, acredito, mas o lixo que os outros jogam, faz com que o mar fique e volte sujo pra ti também!!! mas o sonho dele é ser âncora de algum telejornal famoso...
romântica? a dreamer? aceito esse desafio desde que nasci.
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