quarta-feira, 19 de outubro de 2011

face it


há um sentido em mim que basta. essas palavras, título de uma peça dirigida por jefferson miranda, que acabei não assistindo, tem tomado conta de mim como um mantra. misturam-se ao filme de woody allen, whatever works, e, juntas, adquirem particulares significados que me fazem mais uma vez transcender a tantas vivências e reflexões... e rir.
(acabei de aderir ao facebook, aqui no nosso campo acaba funcionando como um celular já que celular não pega aqui.ainda. sempre a questão de conviver com os aindas.e usufruir o agora.fico incomodada em abrir e-mails e ler que fulana aceitou minha solicitação de amizade ou que beltrana aceitou que eu participe de determinado grupo, solicitações que jamais fiz. fico pensando na lógica matemática, aquela que avisa na rede social olha, você e fulano tem 8 amigos em comum, etc.sim, muito obrigada pela estatística, mas eu escolho, não gosto que escolham por mim. ah, deixa pra lá...a questão não é deixa pra lá, é uma lógica que não escolhi. ah, mas você pode deletar,ah,não deleta não, a pessoa te confirmou , soa antipático...a questão é: nada contra a pessoa ou grupo, mas sinto-me invadida, como no romance de george orwell.)
volto no tempo,muito jovem, sentada naquele barzinho em frente ao espaço de dança, onde fazia parte de um grupo de expressão corporal sob direção de mme renée gumiel.naquela noite, eu tivera que passar nua diante de duas fileiras de pessoas, como se fosse uma multidão em pleno centro da cidade.ela orientara assim o exercício, todos gritando e comentando sobre mim, tentando me agarrar, e eu ter que passar incólume, alheia a todos os assovios, gestos e provocações.grande mestra francesa que conhecia seus pupilos com sua percepção raio x. não consegui, repeti três vezes, mas o máximo que o meu corpo e rosto conseguiram foi manifestar um ar blazée.”tu est très blazée,non é isso”, dizia ela já bem nervosa. no barzinho, senta-se um psicanalista maduro à mesa cheia de jovens artistas e começa a puxar papo comigo. lá pelas tantas ele comentou que a única coisa que faltava em mim era assumir toda a minha loucura que era ótima, fértil, produtiva, profunda, que se eu fugisse dela iria sofrer. acordei outra noite com a voz dele na minha memória, os olhos, a barba meio ruiva. ri. sim, tanto ela quanto ele tinham razão, a vida mostrou. e mostra ainda e isso é bom, perceber que se avançou e pode-se avançar mais. coisas que toda maturidade deveria trazer, sem chavões. por isso também amo tanto os amigos que me cercam hoje, os que estão aqui bem perto , os que estão só geograficamente distantes. dá para se conversar sobre tudo com tamanha sinceridade e expressão que, como disse minha filha outro dia, acho que vou tatuar também este pensamento da louise bourgeois:  art is a guaranty of sanity. não, isso já está tatuado em mim, gosto da minha pele lisa, apenas marcas de expressão como inscrições (não nego que poderei mudar de idéia mas duvido).entre meus amigos incluo pessoas aqui do campo que considero artistas no seu approach com a vida.um deleite.uma troca rica, vida a vida, corações que se abrem e permutam ricas impressões que enriquecem a trajetória da gente. whatever works quando o sentimento não é pequeno, enclausurado. amo o que disse,  é tão profundo, o educador budista, jossei toda: seja quem você é. um investimento para a vida toda.não estou fechada a nada mas continuo querendo fazer as minhas escolhas e suas consequências , como sempre o fiz. ah, e como diz a minha amiga budista, mme bel,que reencontrei no facebook, se uma flecha me atinge, cuido da minha própria ferida, não perco mais energia com indignações.que o inferno não são os outros, isso descobri bem cedo. depois pratiquei, encarando de frente os meus próprios demônios.há um sentido em mim que basta.

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