
domingo, 31 de maio de 2009
confidências a molière

sábado, 30 de maio de 2009
minha nudez é atemporal
ontem uma amiga muito especial e rara encontrou, entre pastas esquecidas, um livro que ela escreveu a mão há 17 anos, que tem tudo a ver com a sua atual visão de vida.celebramos o passado, presente e futuro contido num instante de vida! mais tarde, sem buscar,encontrei um poema que escrevi aos 20 e poucos anos que, ao reler, vi que é atemporal.divido com vocês aqui:
hoje te apresento
a minha nudez
total
sem segredos
sem artimanhas.
deixo você caminhar
nesta extensão
propriedade exclusivamente minha.
é o único domínio real
em que sou rainha
e criada fiel.
é dentro destes limites
que avisto os horizontes
que me rodeiam
pressinto fronteiras
vistos de saída e entrada.
escondo-me, logo apareço
destes montes e curvas
não fujo.
se você quiser
pode ver
a minha pele
está toda tatuada
de caminhos que tracei,
de territórios que explorei,
de tombos que levei
de gente que amei.
hoje te apresento
a minha nudez
como concha que se abre no mar,
olhe meu umbigo meu ventre
minha infância minha juventude,
a maturidade que construo,
é dentro dela
que te faço conhecer
onde crio e vivo
minha força e fraqueza
meus desejos e sonhos
dormem e despertam.
é aqui onde morro aos pouquinhos
nestas ondulações
que são tão minhas,
nesta textura sensível
decolo e aterrisso
não posso prever
o cheiro que provoco
o olhar que entrego
músculos sangue
tantas vezes em carne viva
contrações movimentos direções.
estou inteira
apesar
por causa
de minha nudez.
beija-flor
sexta-feira, 29 de maio de 2009
confissão

mulheres intensas

quinta-feira, 28 de maio de 2009
minhas colagens
corações expostos

quarta-feira, 27 de maio de 2009
d'accordaccordaccorda
obrigada pelo mestrado
nos últimos anos vivi um mestrado intenso e acelerado. conheci gente de verdade e gente que não quer ser gente. entre esses dois extremos todas formas de diversidade e suas sutis nuances.o belo e o feio entrelaçados, conflitos entre o que descobre e brilha com luz própria e o que copia, escurece o ambiente e nada irradia.apurei meu olhar para enxergar por trás das formas, aprendi o real significado de liberdade,amizade,benevolência,coragem, compromisso e arte.houve sim momentos em que meu coração achava que não ia aguentar tanta vivência,acendiam vários alarmes e eu prestava atenção, parecia que estava numa cápsula da nasa, acelerando a percepção,vendo tudo lá do alto e voltando em pára-quedas pro chão..mas meu coração abriu mil janelas e diante de mim se descortina um novo horizonte, um mar azul cheio de vida que cria ondas e rejeita qualquer tipo de poluição. seguem as pessoas de verdade que sabem para que e para onde vão.agradeço a todos esse mestrado vivido no dia a dia. essa riqueza conquistada ninguém tira.consegui reconhecer e dizer adeus a toda forma de ilusão e enganação que usa o medo, a mentira, a bajulação, a dissimulação como forma de opressão, que rouba do outro a energia que não possui e alimenta o sofrimento alheio apenas pra fingir compaixão.estou leve como nunca, ninguém mais joga lixo onde estou, o meu já reciclei e transformei num ser e estar sempre em progresso de confiança, esperança madura e convicção.abraçada à sabedoria atemporal: permitam somente às pessoas verdadeiramente livres unirem-se em construção.
terça-feira, 26 de maio de 2009
ditado persa

segunda-feira, 25 de maio de 2009
na estrada. história 1: destination

mulher. idade indefinida (46 ou 7?). alta, magra,insípida e incolor. a voz sempre macia e no mesmo volume. só se alterava quando alguém dela discordava (dificilmente isso acontecia pois ela não dava espaço).quando isso acontecia (alguns poucos viram) seus olhos cuspiam rajadas de metralhadora,todos os músculos de sua seca face se contraiam.não tinha filhos. casada. não tinha a liberdade nem de escolher em sua própria casa o lugar em que algo (que ela não apreciava) iria ficar.ela já sabia que somos o que escolhemos. mas ela não fazia escolhas.durante o dia trabalhava numa repartição pública..não era o que ela gostava mas tinha medo. tinha medo de tudo: de perder o emprego, do marido ser transferido para outro estado e ela ter que ir junto por falta de opção. então estudava para prestar um novo concurso, pensava no salário, para que um dia, quem sabe, se o medo se apresentasse, ela estaria protegida por algo que ela também não queria.ela acreditava que acreditava na paz.e acreditava que era uma mulher engajada e emancipada.mas tinha medo, muito medo.criava regras e ditados e frases inteiras que só ela escutava e mais algumas que, como ela, devotavam a vida à submissão.todas movidas a medo. entrelaçadas com a repressão como forma de conter. conter a mente nublada, o coração esvaziado,a humanidade abandonada e controlar suas longas pernas que um dia até chegaram a dançar. parou. parou com tudo o que ela um dia gostou. corria noite e dia levando e trazendo papéis.e a voz quase sempre macia.os olhos vazados.as palavras que saiam de sua boca nunca lhe pertenciam.havia sempre um descompasso entre o que falava e o que sentia.ela já tivera a chance de vislumbrar o que é a vida de fato vivida, mas não... para ela cada dia era mais um papel a ser carimbado, um formulário a ser preenchido, uma firma a ser reconhecida.só olhava para fora e corria esbaforida. achava que qualquer pensamento que não fosse o dela era uma grave ameaça, ser justo era ser imparcial, não se comprometer, calar, deixar passar.por isso a voz dela insistia em sair macia.muitos que percebiam o que por trás dessa voz estranhamente macia se escondia estavam cansados de tanta falação vazia, tanta omissão, tanta mentira, tanta distorção que a sua postura engrossava.a voz macia já não camuflava mais o que ela escondia.a mãe dela passou mal. ela pegou um ônibus numa noite fria e voltou para sua terra natal.ficou só no seu apartamento o cachorrinho doente latindo tanto e tão alto e tão agudo que ninguém mais naquele prédio dormia.pegou na mão da mãe já inconsciente e chorou, gritou.primeiro baixinho, depois alto e muito alto enfim.todos correram para acudi-la.quem estava naquele bairro dormindo acordou.ela já não sabia mais o que estava fazendo ali.o celular tocou. era o marido avisando que havia sido transferido para um lugar que ninguém conhecia. ela desligou.
na estrada. história 2: árvore seca

produtivos e contribuintes.como tantas outras e diversas famílias, eles habitam esses condomínios de paredes finas e teto de gesso com sauna, churrasqueira e várias piscinas.amizade, para eles,significa agenciar interesses.ele busca sexo profissional e barato.ela vive para badulaques e artesanatos que driblam o seu bem e mal querer.um dia, depois do seu time perder, ele joga contra as paredes todos os móveis da varanda que, mesmo de plástico duro, caem cheios de rachaduras no piso que um dia ela vai trocar.assim ela consegue ganhar do marido um novo conjunto de cadeiras e mesa que agora se impõe majestosos no espaço, como um elefante num pires ( essa expressão é do edgar – de novo a proporção).num fim de tarde,os convidados se encaixam em seus lugares e um deles elogia algo fake made in china ou nesse lugar.ela,toda satisfeita e sorridente, chama a tudo isso de vitória nossa de cada dia (viu só,clarice?).um homem de aparência repugnante exalta suas últimas conquistas e emenda elogios a violência de um filme trash e não aceita opinião contrária. o marido se levanta,abre o laptop e lê, com pompa calculada para impressionar os presentes, uma dessas mensagens que chegam pela internet e que fazem fernando pessoa ou shakespeare tremerem onde estão, por seus nomes estarem sendo clonados acompanhando textos de quem sabe quem? quando criticamos os outros é porque não estamos conseguindo enxergar a nós mesmos, lê o homem em pé na tela estirada sua frase preferida, entre copos e queijinhos, esticando um pouco o lábio esquerdo numa ameaça de sorriso que ninguém vê.a mulher levanta as sobrancelhas e concorda com estrondosa gargalhada.e com essa frase como porta-estandarte seguem os dois na jornada da total abstração e vão compondo deste modo o próprio enredo e blindando qualquer possibilidade de sensibilização.juntando no cotidiano retalhos, em forma de frases ou qualquer outro material que alguém já antes criou.ele sempre com o mesmo sorriso, ela somente com ácidas gargalhadas.entra pela janela uma voz, em audível freqüência de revolta e indignação, gritando safaaaaaada, enquanto em outro andar crianças cantam em coro um heavy funk na maior altura.alguém aceita um capuccino instantâneo? feito em casa com uma mistura de leite e achocolatado em pó e sei lá mais o que? não, muito obrigada, preciso ir.chega o elevador.boa noite.acaba a luz.o elevador pára quase chegando ao solo. não, eu não moro aqui. deram o endereço errado.onde fica o alarme? a senhora leu sobre o padre pedófilo e o aborto da menina que por isso ela e mãe foram excomungadas? desculpe, moço,agora eu só quero achar o alarme.
domingo, 24 de maio de 2009
sábado, 23 de maio de 2009
sexta-feira, 22 de maio de 2009
noel eterno noel
quinta-feira, 21 de maio de 2009
quarta-feira, 20 de maio de 2009
shhh... la belleza es tu cabeza

terça-feira, 19 de maio de 2009
ah

comunicação

sexta-feira, 15 de maio de 2009
viva o original

quinta-feira, 14 de maio de 2009
eu rio ? eu rio

quarta-feira, 13 de maio de 2009
sabedoria e subversão femininas

...o poder não acolhe bem o desafio. sempre houve e sempre haverá instituições, estruturas e sistemas arraigados que resistem à mudança, que punem a discordância e a inovação, conta a freira Mônica Weis,de Nova York, num depoimento no livro A Sabedoria das Mulheres (editora Objetiva).
“Num dos documentos da congregação das irmãs de São José há uma afirmação que nos define como “mulheres que ousam empreender tudo”, o que entendo como “mulheres ousam ir aonde ninguém esteve antes.”
...o dom especial que as mulheres tem é o de oferecer uma alternativa aos modos de pensar predominantes, insistir no exame da dimensão humana das coisas, na dimensão ética, na dimensão planetária.
"meu maior problema quando eu era jovem era nunca me permitir ser um ser humano: eu estava muito mais ocupada em fazer do que ser.eu achava que quanto mais ocupada estivesse, mais plenamente eu estaria vivendo, mais completamente eu estaria abraçando a vida.você tem que ter sucesso na vida – é o que todo mundo diz. acho que essa afirmação vem dessa peculiaridade da cultura americana em que vivemos, da idéia de que não somos nada exceto o que fazemos – o medo inconsciente de que caso eu pare, talvez não haja nada por dentro
...na juventude tentamos fazer do mundo nossa ostra, modelá-lo conforme nossos ideais, carências, desejos,ambições.
à medida que amadureço venho me desinteressando cada vez mais da vontade de modelar o mundo; estou muito mais interessada em interagir com os ritmos dele, sabendo que fazem parte dos meus ritmos.Buda disse que você não tem que ser nada, você tem apenas que estar consciente, estar acordado."
o título do capitulo dedicado ao depoimento dela é subversão.
"somos tão interligados que qualquer coisinha que façamos tem um impacto. novos modelos são possíveis e estão acontecendo."
terça-feira, 12 de maio de 2009
utopia infectada


visagem
este final de semana conheci uma palavra nova : visagem.
gente, como assim...visagem...é o que? – todo mundo na sala se perguntou.
visagem não é visão nem miragem.
o músico contou que visagem é ver ou ouvir fantasmas. é comum no Pará as pessoas falarem “ih...é visagem”.
pega lá o dicionário: fantasma.
não tem explicação? é visagem.
no aurélio diz também: gíria carioca = gestos exagerados para impressionar.
nós nunca tínhamos ouvido essa expressão por aqui.
bem...pensando melhor..acho até que nunca tinha ouvido mas agora estou entendendo o que é visagem em seu terceiro e filosófico significado: muito barulho para ocultar a verdade.gestos só pra impressionar.fantasmas em forma de pessoas de carne e osso bagunçando a realidade.
xô visagem! ou melhor: xô visagens (no plural)...