domingo, 22 de novembro de 2009
sem título
f. pergunta, enquanto pinta as unhas dela de rosa/quasevermelho, porque está tão calada,ela, que sempre está enchendo de ânimo qualquer ambiente. diz que sabia que houve uma falha quando ontem não apareceu nem telefonou, ela e a gerente comentaram, afinal a conhecem, sabem que sempre chega um pouquinho antes da hora marcada.ela diz a verdade: estou calada porque preciso estar agora, andei ouvindo muito e agora preciso calar,não vai aí nenhuma indireta.a comunicação se estabelece através de olhares. dá para se comunicar assim e ser compreendido.quantas vezes as palavras só servem para provocar desconcerto.muitas. a maioria. cada um ouve o que quer. e depois falam de centro,self, ego, doação,dignidade,respeito, liberdade, compromisso. give me a break. quem não consegue compreender um olhar , jamais vai compreender uma longa explicação, diz o antigo provérbio árabe. e quem compreendeu? haja vontade, desejo, coragem pra promover novos movimentos. de manhâ, tomou café e depois folheou o jornal. passou os olhos e pescou parágrafos soltos numa matéria intitulada eles querem mais do que erotismo. parece que fala sobre a nova expectativa afetiva dos gays,o olhar pesca um trecho em que um psicanalista diz assim , ah...deixa pra lá....que canseira essas análises sobre todas as repetidas impossibilidades...as pessoas não suportam lidar com o mal-estar, com o desencontro, com a diferença. querem respostas rápidas, vínculos descartáveis (os ficantes e os peguetes) pois não suportam lidar com a castração, a incompletude, a constatação de que não há cara-metade. isso é bom, quem diz isso? uma psicanalista,ana claudia vieira vaz.ela morde o pão integral torrado e vê o antigo livro sobre a mesa em frente ao sofá, sabe lá de onde reapareceu: abraçado com a maga, essa concreticidade de nebulosa, penso que tem tanto sentido fazer um bonequinho com miolo de pão quanto escrever o romance que nunca escreverei ou defender com a vida as idéias que redimem os povos.vira a página do livro: coloco-os em fila, do menor para o maior: bonequinho, romance, heroísmo... penso nas hierarquias de valores, tão bem exploradas por ortega, por scheler: o estético, o ético, o religioso. o ético, o religioso, o estético. o bonequinho, o romance.a morte, o bonequinho. a língua de maga me faz cócegas. a língua, a cócega, a ética. lê em voz alta.o jogo da amarelinha. ai, muito, muito bom, cortázar, que bom te conhecer, ela pensa e repete em voz alta. ela tem vontade de, mas fica quieta: o pão, o centeio,o dia.
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