sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

sobre o tempo cheio de vida

obra de claudius - do livro traços impermanentes - em homenagem aos 100 anos da abi
os lençóis-diário de
clelia marchi















teresa costa rêgo em frente a uma de suas lindas telas na celebração de seus 80 anos

a árvore da liberdade - pintura de teresa costa rêgo

numa dessas madrugada muito chuvosas deste janeiro vi o replay de uma entrevista com a fernanda takai. ela contava sobre o dvd conceitual do pato fu numa alegria só, por ter encontrado videomakers sem olhar viciado, uma turma toda muito jovem, disse ela, todos com menos de 29 anos,que aos 12 eram fãs do seu grupo e que conseguiram captar o seu objetivo, longe daquele blábláblá comercial.comentou que, como já tem 17 anos de carreira, se cuida pra renovar o olhar sempre.uma querida! um dos entrevistadores comentou que achava que a juventude não era ter menos de 29 mas sim ter um olhar contemporâneo. todos passaram a falar sobre jovens que já são mumificados e gente de idade avançada com o olhar muito conectado.



semana passada caiu no meu olhar o livro de clelia marchi, uma camponesa italiana que faleceu aos 94 anos em 2006. uma mulher pobre do campo que, ao ficar viúva em 1982,resolveu escrever toda a sua história nos lençóis que já não podia mais dividir com o marido. em 85, ela resolveu mostrar os seus poéticos escritos ao prefeito de sua pequena cidade que ficou tão impressionado com os lençóis-diário que ela acabou ganhando um prêmio do arquivo nacional local, onde o precioso trabalho ficou depositado.
em 89, um neto do fundador da famosa editora mondadori foi visitar o pequeno local em que seu avô nascera e conheceu o trabalho de clelia marchi. ficou impressionado com o que considerou um trabalho literário fora do comum. em 1996, o livro foi publicado sob o título neanche uma bugia – sem nenhuma mentira - uma narração sobre uma vida sincera e rica.


é uma construção poética em que ela conta uma longa vida de criação de tantas vidas, criadas em condições de extrema pobreza e cansaço. os lençóis falam sobre a vida de dores e alegrias e nos levam a lugares da sua memória, os mesmos lugares em que um homem , arnoldo mondadori,  trabalhou muito para difundir a arte da escrita através de uma editora. dois destinos diferentes, com profundas raízes em comum, que levam a caminhos distantes e ao mesmo tempo próximos, o destino de fazer livros.
é assim que a editora apresenta o livro,um sucesso em várias edições.
os lençóis de clelia já provocaram várias exposições.


voltei a pensar sobre o tempo, o que é permanente e não passa, a juventude que em qualquer tempo capta, percebe, realiza o que será sempre essencial.

não bastasse a emoção que essa simples e anônima mulher provocou em mim, fico sabendo (através da carlota lá de pernambuco) que a pintora tereza costa rêgo acaba de comemorar seus 80 anos. clico o play nos vídeos que ela postou em seu blog -carlotavasconcelos.blogspot.com -
......não acredito no que vejo, uma belissima energia, tereza circulando no seu atelê em olinda , linda, uma linda mulher realmente viva....
o tempo tem sido sempre seu parceiro. sua vitalidade não respeita cronologias. prefere não se render a rituais ou formalidades da data. “o relógio não a venceu. ela fez um pacto com os deuses, vai ficar bonita a vida inteira”, corteja o pintor joão câmara, seu amigo há décadas. ( diz o artigo sobre os seus 80 anos de bruno albertim e olivia mindelo).


desde que me conheço penso sobre esse assunto, o tempo. a pureza,a sensibilidade, a energia que não escolhe idade.já conheci crianças muito bem nutridas e bem perversas, jovens múmias e alguns de idade avançada que não conseguiram vencer nem o próprio mau humor. sempre me perguntei sobre a reação que cada um é capaz de ter. ao sofrimento.e à felicidade também.

2 comentários:

Passarinha disse...

Quando chego nessa sua casa perco o tempo... e perder o tempo é quebrar correntes, amarras. Ao menos nesse caso. Livre!

Carlota Vasconcelos disse...

Querida Simonetta, agradeço a citação ao meu blog; ainda não tinha tido a oportunidade de retornar aqui. Tereza de fato tem uma habilidade fabulosa para a construção desses deslumbres em cores. Simplesmente fascinante. Abraços fraternos de uma admiradora constante! Bjs poéticos

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