terça-feira, 22 de junho de 2010

penteadeiras



























fui doutrinada pela minha mãe a não gostar de penteadeiras.ela associava penteadeiras a coisa de gente pobre = pobre de cultura, achava "cafona".e isso ficou em alguma camada do meu inconsciente.desde que me reconheço no espelho, promovo faxinas no meu inconsciente.nunca tive uma penteadeira. tenho pensado no assunto.não seria nenhuma dessas duas. gosto de ter espelhos móveis que ampliam a visão e multiplicam a imagem como colagens.até hoje optei por espelhos com molduras antigas. perdi, certa vez , a oportunidade de comprar num antiquário um espelho com uma moldura belissima,cheia de flores entalhadas em madeira clara,côr de casca de noz,que foi de um circo antigo, daqueles que distorcem a imagem conforme a distância, ou ficamos muito magros ou obesos.hilário.quando liguei depois, decidida a comprá-lo, tinham vendido a moldura e jogado fora o espelho.inacreditável, foi  o que pensei... eu.não gosto de casas lotadas de espelhos, me irrita. ah, eu também sei reconhecer  as mulheres que ficam horas e horas diante do espelho para criar um visual descontraído, de quem saiu de casa com pressa..algumas conseguem acertar a produção descontraída.. outras - como aquela moça no café de domingo, de short jeans,camiseta branca haute couture,bolsa louis vuitton com estampa de rosas, sapatilha pérola,relógio dourado e falsos cabelos lisos - não. ela não descontrai quase nunca.sim, o corpo fala.. nem todos querem revelar a imagem que tem ou não de si.eu aprecio tudo que é autêntico, a imagem que acompanha as emoções, os pensamentos, a atitude que a pessoa tem na vida.é o que acho bonito. acho triste quem precisa de personal stylist ou copia o que viu nos outros, sem nenhuma assinatura própria.sempre que penso em espelhos eu me lembo do meu rigoroso e divertido maître de dança contemporânea que parava a aula e urrava com as mulheres que, enquanto faziam pliées, ou sustentavam a perna no alto por mais de 8 tempos, admiravam seus reflexos ao mesmo tempo.ele interrompia o som e descascava o verbo, falava nonstop sobre conquistar consciência sobre os movimentos sem precisar admirar o que ainda está em construção, só olhar depois.eu gostava.

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