sexta-feira, 23 de abril de 2010
the lotus house
tive sorte de ter estudado inglês,na pré-adolescência, com professores ingleses muito cultos, nervosos,impacientes, rigorosos.eu percebia o que estava por trás do pavio curto deles e eles percebiam o que estava por trás dos meus olhos e ouvidos curiosos.com eles aprendi a compreender as entrelinhas de shakespeare, somerset maughan e tantos outros, uma imensa riqueza. mas quando chegou a vez do poeta wordsworth, apesar deles me amarem pelo que consideravam a perfect accent,resisti. mas o professor não desistiu e me ofereceu aulas particulares sobre wordsworth, em sua casa, a preço irresistível.fui,pois era o tema do exame final. a esposa dele servia um lanche super british e, em silêncio, trazia o chá preto com limão.a atenção e o respeito dela me comoviam. e eu prestava atenção mas nada entendia.os poemas naquele inglês do século 18... era bem complicado.ontem, estava com amigos em casa de amigos. meu marido abriu, num momento, entre tantos assuntos intensos que fluiam pra lá e pra cá na sala, o livro de joseph campbell, a imagem mítica, e me mostrou um trecho que o tocou e que tem tudo a ver com o tema do seu próximo livro. ele saiu da sala , peguei o livro e reabri numa outra página. e lá estava ele de volta, wordsworth. quando o li, me emocionei mansamente,as vozes ficaram longe, veio à minha mente o rosto do professor e eu agradeci ali a confiança que ele depositou em mim.agora eu entendia o que ele já intuia que um dia eu iria perceber.aqui está:
ao olhar a natureza, não como nos tempos
da juventude irrefletida, mas ouvindo frequentemente
a música serena e triste da humanidade,
nem estridente nem dissonante, embora com poder bastante
para punir e subjugar. e senti
uma presença que me perturba com a alegria
de pensamentos elevados; um senso sublime
de algo difuso muito mais profundamente,
cuja morada é o resplendor de sóis poentes,
e o oceano circundante e o ar da vida,
e o firmamento azul, e a própria mente do homem;
uma força e um espírito que impelem,
todas as coisas pensantes, todas as imagens de todo pensamento,
e que tudo perpassam. portanto, sou ainda
um amante das campinas, dos bosques,
das montanhas, de tudo o que contemplamos
neste mundo verdejante; de todo o grande mundo
do olhar e da audição – tanto o que criam em parte,
como também o que percebem, bem contentes por reconhecer
na natureza e na linguagem dos sentidos
a âncora de meus mais puros pensamentos, a ama,
o guia, o guardião do meu coração, e alma
de todo meu ser moral.
wordsworth em 13 de julho de 1798
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