comprei esse quadro que chamo de menina misteriosa num antiquário em Santelmo, Buenos Aires.em meio a uma miscelânea de antiguidades o olhar dela me chamou lá do alto da parede.meu tio que mora lá estranhou que eu tivesse levado meu portrait que minha mãe mandou fazer quando eu era criança e ele não conhecia...foi assim que ele comentou quando deu de cara com o quadro no meu quarto.quando voltei pro Brasil, minha mãe disse que realmente era eu e pediu e pediu pra eu deixá-lo na entrada de casa.todos amigos dela achavam também que era eu criança.o quadro não é assinado.
saudades de glamour.vendo esta foto que meu tio tirou de mim e que foi premiada e ficou um tempão em exposição numa galeria de arte me lembrei dele e dos programas que ele fazia comigo. ele era muito sedutor e tinha muitas mulheres apaixonadas por ele mas uma vez por semana ele me levava pra jantar fora e me tratava como uma super star. eu ficava ensaiando em casa como iria sair do carro quando o manobrista abrisse a porta para eu sair (queria que fosse impactante)unia, cruzava e descruzava as pernas pra ver qual posição seria a mais feminina e natural.nem sabia ler mas ele sempre fazia um gesto para o maître me passar o cardápio primeiro e eu ficava fingindo que sabia ler e fingia estar analisando com ar bem elegante, segura e blasée.ele até puxava a cadeira para eu sentar.eu adorava todo esse ritual.os restaurantes que ele escolhia sempre eram sofisticados. ele até perguntava na frente do maître se eu gostaria de tomar um vinho ou champagne e eu fazia um ar meio Grace Kelly ou Catherine Deneuve dizendo, sempre olhando diretamente nos olhos do meu tio, que não, aquela noite eu prefiriria apenas água mineral com gás.ele me cochichava os nomes em francês para que quando o garçom voltasse eu pudesse pedir por exemplo, uma èclaire au gelat flamblée de sobremesa.voltavamos pra casa rindo muito. ele era vizinho dos meus pais (nessa época) até que finalmente casou. antes das duas filhas nascerem ele deu o meu nome a primeira lancha que teve, ele era apaixonado por mar.hoje especificamente estou precisando disso - de glamour.passei o dia resolvendo coisas muito chatas.
domingo de chuva e frio no rio de janeiro.
o sexo é a intimidade em seu grau mais elevado,é o tato em seu mais alto nível quando, como paramécios, duas pessoas engolem-se. brincamos de devorar-nos mutuamente, digerindo um ao outro, mimando-nos, bebendo os fluidos um do outro,penetramos realmente a pele um do outro. quando beijamos , dividimos o hálito do outro, abrimos a fortaleza lacrada de nosso corpo a nosso amado.quando partimos em uma caravana de beijos pelo corpo do outro, mapeamos o novo terreno com as pontas de nossos dedos e com nossos lábios.......é uma espécie de peregrinação através do tato que nos leva ao templo do nosso desejo. 
na segunda, a menina sem século me acordou super cedo dizendo: você ganhou o quadro da Diane Bronstein!!! (esse que está aí).pulei da cama sonolenta...é mesmo?...gente..... era um jeito dela me acordar pra sair pra vida bem animada, pode? enfim, nem ela nem eu fomos sorteadas mas achei a iniciativa/giveaway muito bacana e gostei de conhecer, através do mundo dos blogs, mais uma pessoa super interessante e seu trabalho lindo! antes de postar o vestido da CoopaRoca que eu amo, tinha fotografado um outro, super especial. como estava correndo e sem camera achei que a foto com celular ficou inexpressiva diante da feminilidade a leveza/transparência que esse vestido tem.esse movimento que a Diane fez me levou a refletir sobre vestidos e suas memórias. esse branco (na verdade uma saia e blusa de algodão indiano e bordados de perfis e flores bem belle epoque) é de uma estilista chamada Emanuelle Kahnn, made in Romênia. comprei há muitos anos aqui no Rio de Janeiro e quem me fez comprar foi um namorado na época que sempre digo que foi a melhor amiga que namorei.fizemos um programa especial pra estrear o vestido (idéia dele). tudo com ele era sempre muito muito divertido - até fazer coisas que eu não gostava normalmente de fazer com namorado, como comprar roupas pra mim, por exemplo.ele morava fora do Brasil mas nos víamos com muita freqüência, ou ele vinha pra cá ou eu ia ao encontro dele.cheguei a querer morar com ele, até escolhi um prédio lindo numa rua linda com um nome muito significativo, liberdade.eu me imaginava morando com ele e mandando meu novo endereço a todos os amigos: rua liberdade..... ele se assustou quando captou meu desejo e terminou rapidamente o namoro. tempos depois reapareceu cheio de desejo mas meu coração já estava ocupado depois do vazio que ele deixou.anos depois ele me localizou quando soube que eu acabara de ser mãe,e anos depois me deram notícias dele, que ele estava super bem casado com um homem muito legal, que demorou mas ele criou coragem de assumir que era gay.minha ficha caiu. lembrei o quanto ele era sedutor com as mulheres e outros detalhes íntimos que deixa pra lá. fiquei feliz de saber que ele conseguiu assumir o que ele é..
.acho inacreditável em pleno final de século 20 isso acontecer mas acontece.já está terminando a 1ª década do século 21 e vejo histórias como essa se repetirem. sei que não é fácil assumir quem somos de verdade , não apenas a sexualidade. sempre acharei inacreditável as pessoas cobrarem isso ou aquilo sem se importarem com a força,evolução e expressão do caráter de cada um, caráter como sinônimo de sinceridade e harmonia entre pensamentos, sentimentos e ações. sei que parece ingênuo o que falo por aqui num mundo em que a maior dificuldade geral é assumir responsabilidade = resposta, atitude em relação ao que vivemos, ao que somos.é uma jornada de expansão de um centro de sinceridade, confiança e autêntica alegria interior. quem sabe vou ter notícias dele de novo , agora sem ele precisar fazer aquele modelito latin lover sedutor das mulheres. quando isso acontecer conto pra vocês. e mostro...quem sabe... um novo vestido que o olhar dele alcançou. por que não?
o segredo é manter permanente (dentro da impermanência) a (nossa auto) transformação insight de Carlos Luppi - amei !
ontem foi a minha vez de participar do Solos Coletivos, uma rede de 12 artistas em diálogo, contínua conexão, interferência e expansão. entre, conheça, deixe seus comentários: www.soloscoletivos.blogspot.com só clicar!
Karina (El Beso, address below), un beso, thanks a lot for having introduced me to a so beautiful artist - Diane Bronstein. I took a quick photo with my cel (my camera is broken) 0f my favourite dress which I consider as an enlightened ghost of my forever present memories.I bought this dress some years ago from a group of women who lives in an enormous favela here in Rio de Janeiro .they create more than dresses, they create real treasures, they create life.This one of mine is a velvet patchwork (pieces of velvet came from German, France, India,etc). Its shape is so forever vintage.vhenever I use this dress, good and unexpected things happen, like meeting people I thought were far and I discover how near we always will be. I think this dress is a symbol for our human diversity in harmony.
ela era bem garota.gostava de ler. gostava também de pensar sobre o que seria o amor.amor com paixão.que dura. estava voltando da praia com uma amiga.entrou no elevador. dois homens muito bonitos e de cabelos grisalhos discutiam sobre a mulher que abandonou o marido. falavam muito, um atropelando a opinião do outro.o elevador parou no 4° andar. antes de sair, um deles, o que era bastante careca, perguntou à menina: e você, o que acha que é amor?
dentro de mim morreram muitos tigres, os que sobreviveram são livres
esta foto foi o meu pai que tirou. eu estava com 14 anos. hoje lá se vão 14 anos que o meu pai foi embora.esta semana voltando a pé pela Jardim Botânico, reparei num monte de arbustos de jasmins do cabo em flor.assim que ele foi embora e voltei pro campo, os pés de jasmim do cabo que ele plantou em volta da casa estavam tão tão floridos, os galhos pendiam com tantas flores que senti a vida dele se manifestar ali também.minha filha era pequena, fazia bijoux de miçangas pra vender na escola e durante um ano economizou e me deu de presente de aniverário o CD A Paz, do Gilberto Gil, que virou a trilha pra me despedir do meu pai. ele ficou muito emocionado com o gesto dela, quis lhe dar o dinheiro do CD sem que ninguém soubesse mas ela não aceitou.quando ele se foi o sol se punha por um lado e a lua cheia nascia do outro. uma revoada de pássaros rodopiou cantando.um mês depois eu e minha filha estavamos na praia fazendo um coração enorme de areia e conchinhas em homenagem a ele e de novo o sol se punha enquanto a lua cheia nascia e três gaivotas dançavam sobre as ondas.ele me ensinou muitas coisas.foi a primeira pessoa a me ensinar a controlar a minha mente em vez de ser devorada por ela.faziamos trilhas na natureza,eu era mínima e ele me ensinava a andar descalça sem reclamar sobre pedregulhos e areia quente, a amar e respeitar o mar. certa vez, bem pequenininha,voltavamos de uma aventura no mar e eu segurava nas mãos fechadas um monte de sementes de tâmara e ele perguntou porque eu estava com as mãos tão fechadas. eu disse que esperava que voltassemos pra jogar no lixo as sementes, pra não poluir nem a praia nem o mar. ele riu e me ensinou que as sementes eu podia jogar e que um dia eu iria voltar e ver altas palmeiras nesse lugar. fiquei encantada.nas últimas décadas de sua vida, ele ganhou dois apelidos dos amigos: Embaixador da Paz (por sua capacidade de dialogar e encontrar soluções para conflitos - sua casa era sempre cheia de jovens) e São Francisco de Assis - por seu amor e respeito a natureza.certa vez pescando só no Pantanal uma sucuri entrou dentro da lancha pequena. era noite ainda e o barco tremeu e quase virou. ele me contou que fez de tudo pra salvar a sucuri que deveria estar mais assustada do que ele, já que era ele que tinha invadido o espaço dela. e com o remo e uma lanterna conseguiu devolvê-la ao rio.assim era o meu pai.ele é muito presente em minha vida.foi uma relação muito muito linda,uma riqueza.obrigada, pai!
eu não tenho um dia a dia, eu tenho uma vida a vida (Clarice Lispector)
fotos de Eduardo Carrilho - manhã de sol em Belém do Pará
adoro ir ao Saara,sempre sinto que estou meio que em Istambul meio que em Marrakesh e no Rio de Janeiro mesmo. aquela multidão de pessoas,barulho,mercadorias escancaradas na calçada,cheiros,alto falantes. certa vez até vi no final da rua um tapete kilin sendo sacudido, era tanto tanto calor que o ar estava rarefeito.quando me aproximei vi que era uma toalha de praia.numa dessas bancas de saldos, tecidos com defeitos, fui atraída por flores, coroas, caveirinhas bem westwood e fiquei louca, levei pra casa um monte de retalhos, que viraram toalhas de mesa e otras cositas más. ao abrir um dos tecidos, qual não foi a minha surpresa: um dos defeitos era a silhueta de Sakyamuni, e em 3D - sentado de corpo inteiro ou só a cabeça sob uma chuva de flores vermelhas e vários tons de laranjas.bendito defeito! o que você acha mais importante: inteligência intelectual, emocional ou espiritual? eu acho que o ideal são as três mas com certeza sem inteligência espiritual não existe inteligência emocional (e vice-versa) e apenas com a inteligência intelectual não se chega à integral essência real .
O telefone ficou sobre o travesseiro. Caiu a linha.No momento em que ia te contar um pouco de mim, de agora.Até parece que foi de propósito.Quando o telefone tocou, eu ía pegar um papel e me contar um pouco.E nem cheguei a tocar na maçaneta e te disse alô, e te sorri pelos fios.Agora estou sentada ao lado do travesseiro.E lá fora o som das latas de lixo.
É por isso que gosto do silêncio. Não o de omissão. Mas esse silêncio que une as emoções e tudo mais, que capta o imperceptível. Então escrevo: quando estou em silêncio, estou em ponto de encontro.
minha cozinha tem todas as cores, chita, renda, quimono, sari,trenchcoat,
não tenho medo de arriscar.quando os ingredientes vão diminuindo me atiro sem pensar, vou seguindo a intuição, descubro que do nada surge algo inusitado,amo o novo experimentar. tudo meio rápido, enquanto corto legumes e lavo folhas de alface agradeço elas terem viajado tanto pra aqui em casa vir parar.depois dá preguiça de lavar.quando decido chegar na pia,lavo pratos pensando que estou lavando toda a sujeira do mundo pra nunca mais ela voltar.
I have a dream that my four children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character. Martin Luther King 
quando eu era criança meu pai sempre dizia que uma maçã podre no meio das saudáveis acaba fazendo com que todas aprodreçam. ele dava esse exemplo pra comprovar cientificamente como o que é destrutivo tem uma aparência linda, tentadora e se a gente não fica atento quando vê .... já era... a caixa toda. outro dia abri a geladeira e tinha na gaveta duas maçãs lindas encostadinhas uma na outra.peguei uma. já estava machucada pela outra que mantinha apenas a aparência. mais tarde quando me envolvi em fazer horta vi a trabalheira que é manter as folhas crescendo saudáveis. todos os dias, todos os dias tem que tirar as ervas daninhas que crescem numa velocidade maior do que as folhas que alimentam. depois aprendi a plantar de acordo com as afinidades eletivas criativas, cebolinha, por exemplo, protege alface, aumenta o perfume das rosas e assim por diante.mesmo assim as ervas daninhas insistem em estragar o trabalho dedicado. com os seres humanos é a mesma coisa, é isso o que meu pai queria me ensinar.finalmente compreendi esse mistério que a natureza ensina com tanta clareza.
hoje, não foi a arca, fui eu mesma uma bela surpresa pra mim. and I thank to myself, what a wonderful world........I can create................
fiz esta arca longilínea com colagens, papel, tinta, tecidos, pedrinhas preciosas,palavras significantes.nela guardo cositas que em algum momento serão uma surpresa pra mim mesma.é muito bom me surpreender.
mas é de barro(Sávio Grossi - poeta mineiro)
quando perguntado se tem muita paciência para esperar durante horas por uma foto, Mitsuaki Iwago, star entre os mais importantes fotógrafos de animais selvagens, respondeu que não tem muita paciência... ele apenas não é impaciente.
moi aussi
foto Miguel Aun para Sonia Pinto - I wish her dresses
colares que fiz com botões de madrepérola que eram da minha mãe (ela também era estilista entre mil outras coisas), outro com pedras de âmbar,tecidos,fotos, chamo de colares de poder pois carregam assinatura de vida, memórias recicladas, o passado, presente e futuro contido numa peça só.
hoje senti muitas saudades da minha mãe. nunca mais tinha chorado de saudades dela. lá fora chovia fininho e as folhas da imensa figueira da índia que chegam até a minha janela estavam cheias de gotinhas, como eu.talvez porque hoje eu senti saudades de ser filha, voltar eu pra casa e receber aquele abraço, aquele amor desmedido, aquele incentivo e aquela bronca de quem te conhece do avesso.em vida manifestei todo o meu amor por ela e também pude me despedir dela declarando que ela podia ir embora tranquila pois eu prometia ser a mulher que ela preparou para a vida.dei um beijo nela e pouco depois o coração dela silenciou.eu fiquei olhando no aparelho aquela linha em ziguezague ir se tornando uma linha reta e saí antes que se tornasse um pontinho. naquele momento ela retomou o auge da sua beleza física.minha mãe era linda, sensível,passional,impulsiva,inteligente,generosa,criativa,vibrante,
