quinta-feira, 4 de março de 2010
percepção inteligente
fui passear no blog da pasarinha verde (passarinhaverde.blogspot.com) e achei bonito como ela percebeu e se comunicou com o leão solitário, no seu passeio ao zoológico. eu me lembrei da vez em que estive em belém do pará e passei horas conversando, através do olhar e dos movimentos de corpo, com uma onça pintada da amazônia no belissimo museu goeldi. dei sorte que não havia ninguém lá naquela tarde.foi uma vivência e tanto.
ler a passarinha me fez lembrar de uma parte do livro da rosa montero, a louca da casa, que estou lendo. num capítulo ,ela conta várias histórias sobre comunicação ou falta de.ela diz: mas a palavra é o que nos torna humanos. justamente por isso sempre me angustiei com histórias em torno do silêncio absoluto, que é o silêncio da incomunicação, de uma incompreensão total que destrói a convenção salvadora da palavra. (eu também sinto isso)
e conta, entre várias histórias, sobre lucy, a chimpanzé que foi adotada por um casal de biólogos ingleses na áfrica .eles lhe ensinaram a lingagem dos surdos-mudos (muitos primatas já aprenderam a entender e usar esse código gestual).muito tempo passou, quinze, vinte anos, e o casal se aposentou e voltou para londres. deixaram lucy num zoológico. muito, muito tempou passou de novo até que um professor de crianças deficientes , de férias na áfrica, foi visitar o zoológico. deu de cara com um chimpanzé agarrado às barras da jaula,fazendo gestos frenéticos a quem se aproximava. o professor se aproximou e ficou paralisado quando percebeu que entendia o que o animal estava dizendo. era lucy,que na linguagem dos surdos-mudos, pedia desesperadamente a todo mundo: "tirem-me daqui,tirem-me daqui,tirem-me daqui."
no século 18, rosa montero conta, o naturalista alemão humboldt foi à venezuela encabeçando uma expedição científica; em determinado momento da viagem, chegaram á aldeia dos índios atures e descobriram que ela havia sido incendiada até os alicerces, poucas semanas antes, pelos agressivos caribes; os restos já começavam a ser cobertos pela selva. buscaram e buscaram, mas não havia sobrevivente algum. só encontraram um aturdido papagaio de cores brilhantes que vivia entre ruínas e repetia uma e outra vez longos discursos numa lingua incompreensível. era a língua dos atures, mas não restava ninguém que a entendesse.
num outro dia eu conto como cheguei a este livro no final do ano, numa comunicação que começou antes das palavras. entre humanos.
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