sexta-feira, 12 de março de 2010
pré-palavras que fazem a escolha
outro dia falei que iria contar sobre como cheguei ao livro a louca da casa, de rosa montero. pois bem, era final de ano, natal. eu buscava um livro de artes pra dar de presente pra minha filha. desejar ler mais sobre arte não tem preço.tinha só um exemplar na livraria que eu acabara de entrar e não comprei, queria pesquisar mais o preço. e aí aconteceu a cena da incomunicação, de uma incompreensão total que destroi a convenção salvadora da palavra - como a montero escreve no livro. continuei andando,avançando ao longo do tapete vermelho estendido sobre as calçadas, à flor da pele. a caminho de casa, resolvi parar numa outra livraria pra ver o preço do tal livro. estava com meus enormes óculos vintage. e quase chorando.o vendedor se aproximou, olhou bem nos meus olhos, até estranhei aquela atenção tão concentrada e enfim, o tal livro custava o mesmo preço da primeira livraria mas tinha 20% de desconto se eu chegasse a comprar mais 20 reais além do preço do tal livro.que ótimo, pensei,e comecei a pensar nos livros que gostaria de comprar, um não tinha, eu não me lembrava dos títulos que desejava, meus olhos começaram a ficar cheios de lágrimas, o vendedor percebeu, pedi desculpas por estar mexida, falei rapidamante que estava cansada sobre os ruídos na comunicação que provocam situações estéreis, inúteis,ele disse que dava pra ver a qualidade de pessoa que eu era e me recomendou o livro da rosa montero. fiquei satisfeita e fechei a compra, eu já tinha lido um outro livro dela e tinha amado. na hora de me entregar os pacotes, ele e um outro vendedor se aproximaram e disseram, um ao lado do outro, que eles gostariam de me oferecer um presente. e me deram um livro, de autor italiano, chamado: a solidão dos números primos. fiquei muito tocada com essa insólita cena e agradeci a eles e à vida. fiquei impressionada com o título do livro: a solidão dos números primos.fui andando,me sentindo o próprio número primo, quando o meu marido me ligou. ele estava lá perto. fui encontrá-lo, tomava um vinho com um nosso amigo. quando o nosso amigo me viu com os novos e imensos óculos ele falou: puxa,que lindos, você precisa falar com a minha filha, ela está arrasada pois foi escorraçada na escola por ter escolhido uns óculos do estilo dos seus.a filha dele deve ter uns 13 anos, altissima, perfil de modelo, linda de corpo, cara, cabelo e mente, cheia de humor, muito observadora, divertida,companhia super agradável. ela não pertence ao mundo de ovelhas que só fazem o que o outro manda.tem personalidade, é reflexiva,crítica,enxerga o outro,está conseguindo ser ela mesma e isso numa fase da vida em que é comum todos serem super bando de ovelhas,a adolescência. depois desse período é muito chato, esquisito ver crescer um humano que nunca vai deixar de ser ovelha/maria vai com as outras. chato, esquisito, prejudicial à saúde privada e pública, é o mínimo que posso dizer por aqui.gente que acredita que se a maioria aprova é porque é bom, é justo, é bonito.
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