mãezinha, querida, hoje, uma vez mais, venho te abraçar e dizer obrigada. por você ter me ensinado,com o seu exemplo, que glamour de verdade é coragem, integridade.sim... você sofreu, sofri contigo,crescemos juntas e durante e no final vencemos, venceu a vida que busca a verdadeira felicidade.lembra quando me apaixonei por Platão, no final do primeiro grau? e teu irmão me disse: tá bem, isso é Platão quem pensou.e você, o que pensa? meu coração ainda aperta quando penso que você, ainda adolescente, foi presa durante a guerra pra te pressionarem a entregar esse irmão que lutava contra a ocupação. e vovó, já viúva, berrava da porta: na nossa família não tem nenhum dedo duro!inverno rigoroso, sua perna gangrenou e você não fraquejou. saiu inteira e sobreviveu mais forte e linda.claro que quando você passava todo mundo olhava. você emanava dignidade, segurança, convicção no que é de fato bom.era muito mais do que belas pernas, seios e uma pele de veludo.quando as costureiras do seu ateliê, brancas, negras, espanholas, italianas, brasileiras me recebiam no fim do dia, cheias de histórias pra me contar, de terras desconhecidas pra mim...e depois traziam doces típicos, roupinhas de boneca feitas com sobras de tecidos e você rindo, me tocava pra casa pra elas também poderem pras suas famílias voltar.e todas as roupas que eu sempre fui,desde menina, a primeira a lançar, morrendo de vergonha... porque ninguém usa, dizia eu...e, você sempre vanguarda em tudo, respondia: você não é ninguém.ai, mãe, hoje ao ler essa história, que está logo aí abaixo, da maria vai com as outras, senti mais uma vez vontade de te abraçar.você me ensinou também a não esperar todo mundo quebrar a perna pra ver que posição vou tomar.onde você estiver receba o meu amor que nunca vai acabar.
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