sábado, 20 de junho de 2009

estranho

ela andava circulando num lugar entre a respiração que entra e a que sai e no intervalo que existe entre as palavras que saem de todas as bocas. seus olhos não queriam facebook, seus ouvidos dispensavam ipods.nesse lugar, um beijo tornava-se diferente de todos os outros beijos, a comida adquiria uma textura nova, o vinho trazia um torpor extremamente alerta.no começo da noite caminhara por copacabana, captara sorrisos,um grupo de mulheres muito gordas de shortinhos muito curtos num frio muito ácido revirando o caminhão de lixo e um homem assoando o nariz sem lenço perto da banca com alfaces roxas.viu bolsas, sapatos, bijuterias brilhantes, tudo colado na calçada.o garoto magrela imitando a xuxa da década de 80 no sinal, com peruca e botas brancas,não, não pedia nada, só olhares. a moça na fila imensa do caixa da loja de departamentos perguntou pro namorado: se leva para uma tem que levar para a outra? ele respondeu que desde que elas não estejam juntas, não. a mãe brigou com a filha porque ela não chamou a mulher de senhora, chamou de você,tem gente que se incomoda,precisa ter educação. ela sorriu pra menina e disse que educação era outra coisa que estava muito além das palavras.corre, moça, me ajuda a abrir a sacola,disse a menina, o fiscal tá passando. o motorista estava feliz porque o filho estava namorando e não era boiola,disse ele.contou que a cunhada abandonou o marido culto e gatão , apaixonou-se por uma mulher,estava imensa e relaxada. segundo ele, mais um produto do mito xuxa.ela abandonou a fila imensa rumo ao caixa, atravessou a rua e continuou andando no vácuo entre todas as cenas. o porteiro buscou e entregou a encomenda sorrindo gentilmente, ela entrou no ônibus do metrô,ficou olhando o forte iluminado, a praia vazia,as janelas da av. atlântica recebendo a noite de sexta-feira.o jovem já bem adulto entrou no ponto do leblon, de mochila nas costas, olhou para ela como se a conhecesse,foi até o ponto final no planetário e ali ela voltou andando devagar.toca o celular, ela fala, ouve, responde, está ali,deslizando pela calçada,mas num outro lugar.


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