sábado, 6 de junho de 2009

ponto de mutação


a médica com traços de linda onça do pantanal descobrira o significado da côr rosa e sua antiga aversão e atual paixão por ela. estava num barco no alto dos trópicos quando, num piscar de olhos, foi envolvida pelo rosa do amanhecer do sol. lembrou que ao tratar de feridas , os médicos sempre celebravam quando o sangue finalmente roseava. descobriu que rosa era a côr que indicava uma mudança de paradigma. um dia novo,o fim da noite ou o fim das infecções. o natural romantismo criando, a partir de dentro, tudo o que fazia vibrar gratidão. só dependia de quem estava por trás das janelas dos olhos.aquela que a ouvia, por dentro sorria.rosa podia ser tanto ponto de fuga – quando encobria apenas com adereços atávica superficialidade – como revelação, pensava. era vital uma forte e saudável vontade para que fosse atingido o ponto de mutação. para que o rosa de dentro brotasse e entrasse em harmonia com o rosa de fora, já que o ritmo da natureza jamais se enganava.enquanto a onça dissertava sobre o olhar que vê e cria beleza a partir dos olhos de dentro e acaba recebendo em troca todo um universo de significâncias que se estende sob os pés no chão,aquela que a ouvia descascou todas suas paredes internas, em veloz trabalho de antropologia, e descobriu camadas e camadas de contínuos momentos preciosos em sobreposição.construir uma vida em rosa exigia coragem, transparência e convicção.até o encontro com o feio e falso adquiriu outra dimensão.e foi embora. era noite mas tudo estava rosa. as ruas,as salas em temperas pintadas, o vinho, as pinturas maravilhosas, a mente dos artistas,as risadas, as fotos da família de clarice e todos os nãos que dissera ultimamente para a noite escura que teimava em impedir o amanhecer. isso já não era mais responsabilidade sua.cada um que amanhecesse (ou não) com a cor que escolhesse ver.

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