quarta-feira, 22 de setembro de 2010

relembranças simultâneas

manuscrito sobre ervas medicinais do séc.VII - museu de nápolis
foto de janine niepce - 1957
acordou e desejou um chá de alecrim, resgatar aquela alegria pura como erva que nasce feliz e confiante no seu jardim.lembrou com saudade das suas flores de nastúrcio laranjas e amarelas  colhidas na hora para perfumar a salada que amava fazer, o sabor picante das suas folhas redondas que espantam o que pode vir a inflamar,os cremes e loções milagrosas que sua avó fazia, o livro, precisava mandar traduzir aquele livro que estava todo em alfabeto cirílico, aguardando voltar à vida, lá na dispensa, olhou para o forte de copacabana e se viu de novo em dubrovnik. estava em vários lugares ao mesmo tempo, guardava o cheiro da lenha e da sálvia e do fumo formando pequenas estrelas na brasa do último fim de semana, o enorme miolo incandescente da fogueira dentro da mandala de minúsculas flores brancas, a ilustração do conto que amava na infância,as três ervilhas, tudo o que tem que ser traz força,disse a terceira ao ser atirada ao mundo, aquela que curou a menina que ninguém sabia o que tinha, devia ser melancolia. viu a lua cheia nascer sobre o mar, as luzes dos muros do forte se acenderem, caminhou rumo ao metrô com morangos frescos na bolsa para a fértil reunião, subiu as escadas da mais antiga farmácia da europa, aquela que conhecera em dubrovnik, e decidiu que daqui em diante confiaria cem por cento nos seus próprios sentidos interiores. eles faziam sentido.sempre fizeram.

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