o marceneiro que tinha fé

ontem recebi um telefonema, a voz de filha aflita e nervosa comunicando que o seu pai, o marceneiro que tinha fé, havia falecido e me chamando para a cerimônia em sua memória.passei o dia com a voz quente e vibrante dele falando dentro de mim, vendo suas pupilas firmes e cintilantes, sua paixão pela vida, uma compreensão tão profunda, clara,acessível e divertida que, quando nos encontrávamos, não víamos o dia passar. a família dele já sabia, se ele fosse lá em casa, não marcaria mais nenhum compromisso nesse dia.ser marceneiro era apenas um meio para ele transmitir sua prática ardentemente humanista, humana, verdadeira, real.eram casos e mais casos, histórias de luta e vitória que vão além de qualquer ficção.porque a vida é assim para quem não só respira mas faz o vento soprar, o próprio sol brilhar e iluminar.estive com ele em maio, queria mais. mas meu coração está leve,acho que ele resolveu descansar um pouco, adormecendo por um tempo.não era muito velho, nem menino,era um jovem vibrante com muitas marcas de expressão no rosto e muito brilho no olhar.sinto que a vida dele me deixou o sabor de uma verdadeira amizade e gratidão.