quarta-feira, 22 de julho de 2009

minha roça

dentro de mim tem varais estendidos sobre a grama o ano inteiro.
o que precisa secar muito rápido coloco no verão,
o que quer carinho macio, coloco sob o sol de inverno.
adoro cheiro de sol, na calcinha, nas toalhas e nos lençóis.
fico indócil quando tudo quer virar cidade.
não gosto de gente que vive com pressa,
que fala mais do que ouve,
que passa e não vê nada,
que não sabe o que fazer e sente-se incomodado com o silêncio
ou que acaba de comer e já sente fome,
esfrego até os olhos pra ter certeza
de que não estou vendo fantasma, porque pra mim
gente assim até parece alma de outro mundo.

não tenho medo, boto logo pra correr,
gente chata não tem boldo nem carqueja que alivia,
e se não espantar logo, ataca e destrói a colheita.
as galinhas de angola passam agora
e soltam penas
que voam sob o varal
e eu coloco todas no meu cabelo, fica lindo.
o caminhão de gás toca pour elise para avisar que está lá na estrada.
na cidade todo mundo buzina à toa e tem mais gente que não vê que o outro existe.
de vez em quando faço suco de folhas de capim cidreira e limão bravo,com casca e tudo,parece até que o corpo escovou por dentro,como se fosse dente perfumado.


comidinha tem que ter charme, misturas inusitadas,
como essas pétalas de rosas na abobrinha e camarão.
amo comer frutos do mar no alto das montanhas,
ainda mais quando ele faz na panela de barro.
cachaça amarela aprendi a tomar com ele,
como se fosse tequila ou sakê,
vinho eu já sabia.
mais tarde vou estender o sol nesta noite gelada
sob os nossos cobertores ameixa, uva, espumante e turquesa,
a cama esta semana está bem colorida.
lembrei do meu amigo que sempre que me visita
diz que a minha roça é toscana,
podia ser até um filme do bernardo bertolucci.adoro!

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